Naquela noite, a Arena do Grêmio pulsava com uma energia singular, como se cada tijolo e cada assento estivesse ansioso para receber os dois gigantes da música brasileira: Maria Bethânia e Caetano Veloso. A expectativa no ar era palpável, vibrando em um compasso íntimo e coletivo, como um coração que acelerava à medida que a hora do espetáculo se aproximava.
Quando as luzes se apagaram e o primeiro acorde ecoou, uma onda de emoção invadiu o recinto. Maria, com sua presença imponente e sua voz que se desdobrava em nuances de dulçor e força, tomou conta do palco. As palavras que ela cantava pareciam se entrelaçar nos corações dos presentes, como se cada verso fosse um elo que conectava nossas histórias, nossas saudades. Ao seu lado, Caetano irradiava a leveza e a profundidade de sua arte, como se estivesse levando todos nós em uma viagem pela memória e pela cultura brasileira.
A cada canção, era como se o tempo parasse. "Negue" e “O Leãozinho" soaram como convites para uma dança mística, onde as lembranças de amores perdidos e alegrias encontradas se misturavam à melancolia de um Brasil que ainda sonha. Enquanto as luzes refletiam nas lágrimas que escorriam pelo meu rosto, percebi que não estava apenas ouvindo músicas; estava vivenciando um rito de passagem, uma celebração da vida.
Os olhares se cruzavam, os sorrisos eram amplos, e o sentimento de pertencimento unia todos os presentes. Vimos Maria e Caetano não apenas como artistas, mas como porta-vozes de uma alma coletiva, aquela que resiste e brilha mesmo nas noites mais escuras. Quando ela cantou "Festa", a Arena se transformou em um grande coração pulsante, vibrando em uníssono, e todos nós éramos parte daquela alegria compartilhada.
Entre memórias e passagens, a música tornou-se um bálsamo, cura para as dores escondidas, um grito de liberdade em tempos tão desafiadores. Cada verso interpretado era uma carta de amor à vida, e eu me permiti sentir cada nota como uma libertação. As lágrimas que escorriam eram de gratidão, por estar ali, por viver aquele momento único, por ter a oportunidade de ser tocado por duas das vozes mais poderosas da nossa música.
Ao final do show, quando os aplausos ecoaram como um eco interminável, percebi que nós, que estávamos ali, éramos parte de algo muito maior. E quando Maria, em um gesto pleno de afeto, despediu-se com um sorriso e um aceno, eu entendi que havia testemunhado não apenas um show, mas uma experiência transformadora. Uma celebração da arte, da vida e da conexão humana.
Naquela noite, na Arena do Grêmio, a música nos fez vibrar a alma. E, enquanto saía em meio à multidão, sentindo o calor das emoções que ainda pairavam no ar, sabia que aqueles momentos de beleza e entrega jamais seriam esquecidos. A magia da música e a profundidade da arte permaneceriam gravadas em meu coração, como um hino eterno à vida.
FONTE/CRÉDITOS: Escritora Vera Salbego
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