Às vezes me pergunto se é mais importante quere ter a paz ou ter razão?
A paz é um lugar bonito, tranquilo e sossegado que me deixa reflexivo, quando então, ensimesmado sopram brisas de silêncio e embala a minha rede do conforto, mas a razão não é assim. A razão é consistente, mas também traiçoeira. Ela provoca inquietação e, para os menos desavisados, invoca uma necessidade de ser a última palavra, é racional, mas associada as nossas emoções, poderá ter o desejo de sobressair da sua real função, que é a de troca de conhecimento.
Também, avaliando o contexto, nos dias de hoje não basta o conhecimento e a argumentação, por mais filosófica que seja tua dissertação, sempre tem um ponto divergente que pode colapsar o pragmatismo e trazer os gurus especialistas que nunca leram um livro, à tona.
Nós da geração passada, 60, 70 e 80, aprendemos a calar mais do que divergir. Porque não aprendemos a argumentar, aliás nem podíamos. Nossos pais impunham respeito, nossos professores exprimiam respeito, eram nossos ídolos, manifestar-se era contra o sistema e estava tudo bem. Não ficávamos nos lamentando como maltratados.
As porteiras foram se abrindo, as tecnologias invadindo o mundo e os valores mudando. Na linha de que precisamos nos adaptar (Charles Darwin nos ensinou) fomos cedendo a prole, nos tornamos mais flexíveis e auditivos, demos voz e vaza aos nossos filhos. Mas será que entregamos todas as ferramentas que eles precisavam?
Não posso responder por todos, é uma reflexão interna que precisamos fazer. Olho pra minha filha e sei que podia ter dado mais, não quer dizer que dei de menos. Concordo que com o aprendizado e minha construção do conhecimento, talvez deposite na minha neta essa oportunidade de cobrir essa lacuna e ensiná-la a ser ainda melhor.
Todas as discussões são cabíveis, mas precisamos aprender que quando não temos conteúdo, escutamos e aprendemos. Quando não sabemos do assunto, é pertinente dizer que nada sabemos, mas parece que temos medo de falar isso. Não nos permitirmos aproximar novamente da criança curiosa que já fomos um dia!! Se hoje temos espaço para questionar, debater, por que não fazer? Aliás vivemos uma sociedade em que a materialidade sobressai a espiritualidade, as vezes esquecemos que vamos morrer e rompemos o acúmulo de bens e nos afastamos das pessoas.
Somos comparativos, corremos atrás de dinheiro que não temos, pra comprar coisas que não nos fazem falta, pra demonstrar socialmente aquilo que nem queremos ser. Pra quê? Pra nos inserirmos na sociedade e ser aceito, que sociedade é essa? Tenho que ter capital sem ter valores e daí ser aceito?
Quando olhamos para os livros e descobrimos que neles a essência da sabedoria se concentra, deveríamos dar-lhes mais oportunidades que a tevê e o celular. As vezes o livro mofa e se deteriora na estante, sonhando o toque da mão para erradicar a ignorância. Quero a paz de discutir sem buscar a razão, mas a fundamentação de algo que explique conceitos, teorize dilemas, aprofunde ideias e difunda a fraternidade, pela singela oportunidade de troca de saberes, sejam eles formais ou tão somente vivenciais.
Aprendi que só podemos divergir de quem tem a inteligência para compartilhar. Quem compartilha não retém, portanto não se acha dono de nada, mas entende que compartilhando conhecimento e informação é que dominamos o bichinho arrogante da ignorância.
Creio que a construção de uma sociedade que busca o conhecimento para dar voz a razão ainda é possível, desde que sejamos mais estoicos e menos relapsos. Dizer sim ou dizer não apenas para conflitar, ou para simplesmente encerrar uma discussão, sem essência e conteúdo é puro brio, sem fundamentação não há crescimento.
Quero então a paz, e cada vez mais buscar aplacar a minha sede de conhecimento, sem a pretensão de ter razão, já vi que isso é não para mim, quero é ter essência e conteúdo para quem quiser uma boa conversa.
Aí a vida terá feito sentido...
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