O assunto do momento é a retomada do ano letivo, as angústias e incertezas que ele traz consigo. Angústias no sentido de preservação da vida, da saúde, da aprendizagem, da segurança, enfim tantas, tantas. Incertezas no sentido de como será, o que poderá acontecer, e não acontecer.
E justificando o nome da coluna “Educação e Reflexão”, vamos refletir sobre alguns pontos. Acerca do retorno, sabemos que uns são contra, outros a favor, cada qual com seus argumentos, suas certezas e incertezas, e está tudo bem, somos humanos, pensamos diferente. O importante é manter o respeito e a empatia.
E fica difícil não comparar quando assistimos todos os dias na mídia em outros estados, municípios, escolas retornando presencialmente em janeiro, fevereiro... e logo depois precisando retornar novamente ao remoto, devido a alguns casos e até mesmo surtos em seus espaços, envolvendo estudantes, professores, funcionários e até mesmo familiares.
E fica difícil comparar, quando vemos escolas particulares com salas imensas e arejadas, recursos humanos suficientes, um excelente aparato tecnológico e condições de cumprir todos os protocolos de prevenção de maneira impecável (pausa aqui para a observação de que mesmo assim não serem 100% seguras), com as escolas públicas, que sofrem com a falta de recursos de todo o tipo.
E a aprendizagem como fica? Como e o que os estudantes vão aprender confinados em casa por mais algum tempo? E o que os mesmos vão aprender na escola, com tempo e espaço reduzidos? Apreensivos e ansiosos? Seguirão os protocolos? Como estará a saúde emocional das crianças e adolescentes, e até mesmo os jovens e adultos da EJA? E a dos profissionais ligados a educação?
Como combater a desigualdade de condições e acesso? Como atender aos alunos em vulnerabilidade social? Fome e desamparo? Como evitar o desinteresse escolar, a evasão? E a acolhida, o olhar que afaga, o auxílio necessário, seja ele emocional ou material, onde buscar? Sempre se fez necessária uma rede de apoio para a educação por parte da saúde e da assistência social, mas atualmente se faz imprescindível, vital.
Compara-se a segurança da escola em contraponto a rua, onde vemos crianças e adolescentes passarem seu tempo, muitas vezes sem qualquer cuidado referente a pandemia, como se a mesma não existisse, algumas vezes até mesmo acompanhados da família, em praias, lojas, festas, eventos, entre outros. E isto não deixa de ser verdade, em algumas situações. Porém aqui a questão é sobre responsabilidade familiar e social.
Mas creio que o ponto mais preocupante neste momento seja a altíssima taxa de óbitos registradas diariamente e a ocupação hospitalar em leitos clínicos e UTIs para pacientes covid dentro do nosso estado. Muitos hospitais já com superlotação, cancelando cirurgias e outros procedimentos. Pacientes necessitando deslocar-se para outros municípios afim de conseguir internação, além das variantes mais contagiosas que surgem, uma delas inclusive já registrada na serra gaúcha. Muitas regiões em bandeira preta, já nesta semana, nosso sistema de saúde não suportará novos surtos.
E a vacina? Sabemos que testes em crianças e adolescentes estão em início de processo. Mas e os professores e todos os demais funcionários vinculados as escolas e educação em geral? Porque não estiveram como prioridade, exatamente em início de ano letivo? Se o objetivo é um retorno seguro, evitar surtos e casos graves da doença, qual é a justificativa? Sem contar a morosidade da vacinação, que tem preocupado tanto. Temos até a presente data, a fala do Ministro da Saúde Eduardo Pazuello, realizada na semana passada, de os professores entrarem no segundo grupo e serem vacinados até final de março. Esperamos que se cumpra efetivamente!
Não temos uma receita pronta de como fazer, qual seria a melhor estratégia de retorno seguro, de como garantir saúde e aprendizagem, sabemos das dificuldades todas, o objetivo aqui é refletir e ponderar as diversas faces da realidade vivida nesta pandemia perversa que acompanha o início deste ano letivo, sem a pretensão de convencer qualquer posicionamento, mas contribuir com o pensamento crítico, respeitando a opinião de todos.