O reinado da folia se aproxima. Já se ouvem as notas cristalinas de risadas que desopilam, cantar no ambiente, como a perfumá-lo, derrubando a mais pungente dor, a tristeza e a desgraça.
Chega-se com passos de requebro sob o som alegre do can-can e do maxixe, o Rei do Riso, do gozo, do prazer e de todas os agentes que nos fazem contentes.
O ambiente todo parece povoar-se de uma luz matinal, que empolga e que nos faz esquecer as agruras de uma noite que passamos fúnebres, doridos e tristonhos.
É o carnaval que se aproxima!
Os sons das fanfarras, das gaitinhas, dos bumbos e das caixas de rufo enchem as ruas.
O povo estupefato entra na dança, levado na onda pelo embriagador som que se espalha dos guizos a bimbalharem, misturado com o odor do Rodo, sob o riso chocante e penoso da Folia que passa.
E o carnaval chega.
O auge do Prazer eletriza todos. Não há dor, não há desgraça, tudo morreu. Só existe o sorriso...
E quantas vezes não temos o sorriso no rosto e a alma a chorar, quebrada pela dor!
O mundo é um grande circo e palhaço como nós.
Mas deixemos estes pensamentos vários e que não são mais que visões sem valor e fugazes e brinquemos, porque afinal esta é a vida...
O “Grupo Luar do Sertão” que se fundou nesse povoado graças aos esforços de alguns de seus moradores e veranistas, hoje, espalhará pelas ruas os acordes alegres do “Zé Pereira”, misturado com o riso franco de seus componentes, filhos de importantes e respeitáveis famílias.
A monotonia das noites, que se passam nostálgicas, sem um divertimento, mergulhada numa escuridão de tristeza nas ruas sem movimento, o “Luar do Sertão”, dissipará por momentos, distendendo um manto de zabumbar ensurdecedor.
Hoje pretende realizar para solenizar sua aparição nas ruas, um baile no salão do Centro Republicano Carlos Barbosa.
Será uma nota chic que terá a registrar os anais da sociedade Pedrense.
São diretores deste sarau as senhoritas Almerinda Arena, Alayde Leite, Izaura Machado e os jovens Alberto Rangel, Sylvio Pinto, Alfredo Machado e José R. Pinto.
O “Grêmio Recreativo”, ao sabemos, no próximo domingo 4, efetuará um baile de máscara, para o qual desde já reina grande entusiasmo, entre seus sócios.
Os jovens se apresentam para organizarem suas fantasias e as gentis senhoritas também já tratam de suas vestimentas para darem graciosidade à soirée.
O Carnaval é um divertimento que faz tudo esquecer, pois que os períodos que nos empolgou a descrição de suas festas neste povoado, nos fez olvidar toda a dor, tristeza e desgraça que avassala a humanidade.
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O texto acima foi retirado do Jornal O Pampa, datado de 21 de janeiro do ano de 1917, página 2. Nesse período Guaíba não existia como município, possuía a denominação de Pedras Brancas e era o 7º Distrito de Porto Alegre. O objetivo da transcrição (com atualização ortográfica) foi trazer aos leitores desta coluna, o ambiente da época, de uma forma mais original, mantendo a linguagem jornalística do início do século XX. Na próxima coluna, a continuação da história do carnaval no início do século XX, no Distrito de Pedras Brancas.
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