(...)Nesta esteira refletindo melhor acerca dos fatos aqui expostos, posso lhes dizer que temos uma grande chance de êxito no caso em tela, que pode sim nos remeter a uma composição da lide, uma vez que ao protocolarmos o Recurso de Revista, as chances de êxito aumentam com a tentativa de modificar a decisão do juiz a quo, do qual considerou nossos pedidos como desvestidos de supedâneo jurídico válido.(...)
Considerando o exemplo acima, onde um advogado passa informações a seu cliente , podemos dizer que emitimos muitos termos jurídicos, palavras e situações avessas ao cotidiano de uma pessoa que não tem vivência jurídica, ou seja, damos um verdadeiro “nó” na cabeça de nosso cliente. Apenas para dizer que o problema que ele nos levou tem fundamento e a base para resolução ou até mesmo a situação em que se encontra o processo está mais favorável a tese apresentada.
E com esse tema de grande relevância, na comunicação entre advogados e clientes, que iniciamos a coluna "Reflexões de um Advogado".
Por que complicamos tanto usando um “juridiquês” (um neologismo em voga no Brasil para designar o uso desnecessário e excessivo do jargão jurídico e de termos técnicos de Direito) para explicar algo simples?
Quando somos procurados por um cliente ele espera naquele profissional jurídico uma solução para seus problemas e, em vez de deixá-los à vontade, ouvi-lo atentamente para poder emitir um parecer adequado para o problema, acabamos transformando a reunião em uma verdadeira aula de direito de 1º semestre. Onde muitos (não são todos) tentam mostrar técnica e posicionamento impositivo para impressionar quem está buscando uma solução para seus problemas. E isso não parece ser a atitude mais racional!
Em muitos casos esses clientes saem da reunião sem saber o porquê das coisas que foram faladas, sem saber se precisa estar tranquilo ou preocupado com o problema por ele levado e em muitos, mas em muitos casos não sabem nem ao menos o quanto vão ter que pagar de honorários ou custas processuais no patrocínio da demanda jurídica, gerando assim um desconforto gigantesco para ambas as partes ao final ou até mesmo no início de cada trabalho contratado.
Vamos agora voltar ao início desta situação e analisar detalhadamente o papel de um advogado. REFLITAM!
Qual é o objetivo do advogado com seu cliente? Mostrar que conhece o Direito? Ou será que é fazê-lo entender o andamento do processo e o que ele pode ganhar, perder ou se realmente tem algum direito a discutir judicialmente?
Nossos clientes precisam ter a segurança de estar contratando um profissional adequado para seu caso, um profissional que possa passar a informação adequada a ele, pois quando isso não acontece, além de gerar insegurança, os deixa com dúvida sobre tudo que será feito dentro do trabalho contratado!
É muito comum vermos profissionais do Direito, impregnados na utilização de termos jurídicos excessivamente técnicos utilizados em suas demandas diárias. São tantas petições, recursos e atos processuais executados que entram de uma maneira em seu vocabulário que acabam se tornando praticamente a “letra mãe” do seu dia a dia, e com isso acabam por vezes passando uma imagem distorcida da realidade a seus clientes. Alguns destes operadores jurídicos são taxados de esnobes por não levar em conta o uso do costume, mas sim o uso proposital deste “juridiquês” com o nítido e claro objetivo de demonstrar “conhecimento exacerbado” que, além de não agregar em nada na consulta Jurídica, acaba gerando desconforto e insegurança naquele que busca uma solução para seu problema.
Alguns profissionais jurídicos têm medo ou são inseguros, por exemplo, de simplificar – ou até mesmo usar a linguagem com o perfil do cliente, ou seja, popularizar alguns termos jurídicos. Acabam na maioria das vezes justificando que não encontram palavras capazes de representar o significado daquilo que eles querem traduzir.
Mas o que o cliente realmente quer? Será que isso importa para nosso cliente? Quando estamos frente a frente conversando, acredito que as pessoas querem um entendimento sobre a situação e um parecer sobre o problema ou dúvida que é levada. Se ele quisesse algo complicado e muito técnico buscaria o velho e não tão sábio “tio Google” para procurar soluções para seus problemas e que por si só, iriam lhes encher de terminologias técnicas jurídicas e confusas que na maioria das vezes não os levariam para lado algum.
Lembro-me muito bem de um exemplo dado em sala de aula, onde um grande professor, chamou dois alunos de nossa turma, o Zé das Couves e o Tício e lhes disse: “Zé das Couves, diga ao Tício que você está lhe dando essa caneta”. Neste momento Zé das Couves levanta e como todo bom estudante de direito, ajeita seu terno, se aproxima de Tício e dá início a sua fala da seguinte maneira :
“Eu, Tício, por meio desta, dou e concedo a você, Zé das Couves, portador da cédula de identidade tal,CPF tal, residente e domiciliado na rua tal, a propriedade plena e exclusiva desta caneta, inclusive benefícios futuros com a recarga, com direitos e reinvindicações, obrigações e vantagens no que consiste nesta caneta esferográfica em questão, transferindo-lhe direitos e vantagens de usá-la tanto no papel quanto na parede, podendo cedê-la a outrem, valendo esse ato entre as partes, herdeiros e sucessores, em caráter irrevogável e irretratável, declarando Zé das Couves que o aceita em todos os termos e conhece perfeitamente a qualidade da tinta da caneta, não podendo emanar de modo algum, os direitos contidos no Código de Defesa do Consumidor”.
Finalizando, Tício disse : “aproveitando o ensejo peço que utilize a sua própria caneta para assinar comigo essa declaração”
Nosso professor neste momento olhou para Tício e disse: "parabéns, os termos utilizados são corretos e com certeza atingiu o objetivo proposto de maneira irretocável! Agora reflitam, será que foi isso que lhe pedi mesmo? Não seria mais eficaz e simples a comunicação, se você chegasse e dissesse, aqui está, Zé das Couves, uma caneta para você?"
E continuou o professor: “temos que cuidar nobres colegas para saber a hora de usar o revólver ou o canhão, se utilizarmos bala de canhão para matar formiga, teremos problema na carreira profissional.”
Neste momento parei e refleti muito sobre tudo que aprendemos na vida, na escola e a na universidade, existe o momento certo para tudo e precisamos cuidar para não exagerar nas ações ou explicações pois, com certeza, utilizando a metodologia errada ou em excesso, podemos perder muitas coisas que vão estar em jogo em uma consulta jurídica, onde corremos o risco de passar a informação errada ou até mesmo perder o patrocínio da demanda por não ter realizado uma comunicação adequada.
Nesta esteira, podemos afirmar que um advogado bom não é aquele que fala de maneira difícil, mas sim aquele que consegue receber a informação de seu cliente e a transmitir de forma clara, objetiva e com a sinceridade que pede esse tipo de relação! A contratação de um determinado trabalho jurídico envolve transparência, verdade e postura ética profissional, características essas que demonstram com quem estamos trabalhando.
Portanto, falar com nossos clientes usando termos que ele entenda, ser sincero com o problema que ele traz e muitas vezes dizer um não para o patrocínio de determinada ação nos traz mais credibilidade e demonstra claramente o papel do advogado na sociedade.
Lembre-se, a sopa de letras jurídicas não vai mudar o conhecimento que você tem sobre o Direito ou sua área de atuação, nem mesmo irá dizer a qualidade de suas ações dentro do processo, mas pode sim criar problemas futuros com a imagem que você irá passar a seu cliente que por sua vez poderá afetar sua prospecção futura.
Mais não falo, apenas reflito ...
Comentários: