Repórter Guaibense

Quinta-feira, 06 de Novembro de 2025

Notícias/Economia e Trabalho

Família de mulheres negras é acusada de roubo e denuncia racismo em loja de Guaíba

Um boletim de ocorrência foi registrado pelas vítimas na Delegacia de Polícia de Guaíba

Família de mulheres negras é acusada de roubo e denuncia racismo em loja de Guaíba
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Dona Maria de Fátima de Lima é empregada doméstica. Mulher negra, ela é mãe de Graziela e da Caroline, que está grávida de sete meses. Ela esteve com as filhas — também negras — nas lojas do Centro de Guaíba na manhã do dia 18 de outubro (sábado), por volta das 9h30, procurando um anel de compromisso para o filho.

Na segunda-feira seguinte, as três descobriram que uma imagem do circuito interno de uma das lojas havia sido compartilhada em um grupo de mensagens de comerciantes, insinuando que eram suspeitas de roubo. A imagem foi exibida para diversos lojistas sem que as elas soubessem que estavam “na boca do povo” como se fossem ladras, segundo o advogado de defesa, Daniel Ferreira Lima. 

Para Graziela, o caso é de discriminação. “Sou uma mulher preta, e só porque entramos na loja fomos acusadas de tentar roubar? Não. Se tivesse havido tentativa de roubo, eles teriam acionado a Brigada Militar na hora. Se não acionaram, é porque isso não aconteceu. Isso é preconceito — e novembro é o mês da Consciência Negra, então isso precisa parar”, declarou.

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Ela contou ainda que, desde o episódio, não tem mais coragem de entrar nas lojas do centro da cidade com medo de ser hostilizada. “A imagem foi exposta a todos os comerciantes. Só tenho ido ao supermercado Paulinho, porque todo mundo me conhece lá. Como vou entrar numa loja sabendo que estou marcada? Agora vai ser Natal, e não quero passar por isso de novo. Tenho medo de que os lojistas chamem a Brigada ou que alguém me siga”, desabafou. “Eu faço tratamento no CAPS, então tive que conversar com meu psiquiatra e dizer que pensei em cortar o cabelo porque não consigo sair de casa assim. Na fotografia, o meu cabelo aparece nítido. Como vou explicar que não aconteceu nada se o meu rosto, o da minha mãe e o da minha irmã estão estampados ali? Então, isso não foi preconceito?”, completou.

O advogado afirmou à reportagem que tem plena convicção de que elas foram vítimas de racismo, pois não há nenhuma evidência de tentativa de furto ou roubou. “Se fossem três mulheres brancas comprando em um sábado de manhã, certamente isso não teria acontecido. [...] As imagens delas foram não apenas divulgadas em grupos, mas associadas a um crime. Trata-se de calúnia, difamação e racismo, porque a loja não obteve nenhuma gravação delas furtando ou roubando”, pontuou.

Um boletim de ocorrência foi registrado pelas três na Delegacia de Polícia de Guaíba. Procurada pela reportagem, a empresa — que não pode ser identificada por questões legais — preferiu não se manifestar sobre o caso.

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