Guaíba, cidade que abraça o Lago dos Patos, transforma-se em um cenário de cores e aromas a cada mês de junho. As noites frias que costumam envolver o Rio Grande do Sul são suavizadas pelas chamas das fogueiras e pelas risadas que ecoam nas praças e nos pátios dos bairros. É época de festa junina, uma tradição que reúne famílias e amigos para celebrar, repleta de quitutes, danças e, claro, o tão amado "arraiá".
Nesse ano, no entanto, a festa em Guaíba ganhou um toque ainda mais especial. No céu crepuscular, pairava um avião de pequeno porte, cruzando as nuvens como se quisesse se juntar à celebração. Desde o chão, as crianças apontavam para o céu, os olhos brilhando de curiosidade, enquanto os adultos compartilhavam histórias sobre o avião e a liberdade que ele representa. O estrondo do motor parecia ser a canção tema do evento, uma sinfonia que combinava com o som do sanfoneiro tocando "Asa Branca", recheada de acordes que dançavam no ar.
Na praça central, as barracas se alinhavam, adornadas com bandeirinhas coloridas. O cheiro de pipoca e milho assado se misturava ao aroma do quentão, enquanto as mesas estavam repletas de doces típicos: pé de moleque, canjica e bolo de milho. As fogueiras, feitas com palha e troncos de madeira, iluminavam rostos sorridentes, e os risos das crianças se entrelaçavam com a música de forró que animava os adultos. Era um ciclo de felicidade, um resgate de memórias e tradições que pulsava com a essência do povo gaúcho.
As danças ao redor da fogueira levavam todos a um ritmo contagiante. A quadrilha, essa dança tão típica, lotava o espaço de alegria e descontração, com seus passos marcados e dotes de vaqueiros e matutas. Enquanto isso, o avião continuava em sua trajetória, facilmente reconhecido pelos que olhavam para o céu. Era quase como um espetáculo paralelo, uma dança diferente que ocorria na vastidão azul, uma lembrança do que há além da festa, além da cidade.
E quando a noite caiu, as estrelas começaram a despontar no céu, o avião finalmente desapareceu na escuridão, como um símbolo do sonho que sempre nos remete ao infinito. Naquele momento, cada um ali presente sentiu que o que realmente importava era o calor humano, o laço criado entre as pessoas, e as tradições que se perpetuavam. A festa junina em Guaíba transcendeu a simples celebração, tornou-se um momento de conexão, um respiro coletivo que fez todos esquecerem, por algumas horas, do mundo acelerado lá fora.
Assim, enquanto as fogueiras diminuíam suas chamas e as últimas notas da sanfona se dissipavam na brisa fria, Guaíba se despedia de mais uma festa. E, entre sorrisos e histórias, ficou a esperança de que no próximo ano, durante a Festa Junina, o avião voltasse a cruzar os céus, trazendo consigo não apenas o som do motor, mas também a leveza de ser parte de uma comunidade que sabe valorizar suas raízes e sua cultura.
FONTE/CRÉDITOS: Vera Salbego
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