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Terça-feira, 30 de Setembro de 2025

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Para ler Teatro

Dicas de peças teatrais para quem quer entender e se aproximar do Universo Teatral

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Muitas pessoas adoram assistir espetáculos teatrais, porém nunca tiveram a oportunidade de ler um bom texto dramático. 

À primeira vista o texto dramático apresenta uma série de diferenças e algumas semelhanças com o texto literário. Vamos a algumas dessas: 

Enquanto o texto literário, geralmente, narra em 1ª ou 3ª pessoa (eu/ele/nós/eles), o texto dramático, salvo em algumas estéticas/vertentes, não tem narrador, predominando o discurso na 2ª pessoa (tu/vós). Durante as apresentações, os atores encenam, diretamente no palco, dando vida à personagens das mais variadas naturezas. O texto dramático, escrito pelo dramaturgo, destina-se a ser representado, tornando-se, assim, texto teatral ou peça de teatro. A ação é marcada pela atuação das personagens que nos dão conta de acontecimentos vividos.  

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Nas duas modalidades os personagens e a ação são imprescindíveis e fundamentais, entretanto, se no texto literário a narração é indispensável, na vertente dramática esta não existe, a não ser, ocasionalmente, nas falas dos personagens ou em rompimentos de rotinas (o que chamamos de quebra da quarta parede). Se, no texto literário, o diálogo geralmente está presente, no teatro ele faz parte da essência. 

Para melhor entendimento, vou detalhar algumas características do texto dramático: 

A principal característica é o seu objetivo de ser posto em cena. Um texto dramático nasce para subir ao palco, seja este qual for. 

Um texto teatral, geralmente escrito em prosa ou verso, é formado pelo Texto principal, composto pelas falas das personagens, e também pelo Texto secundário ou Didascálico, destinado ao leitor, ao encenador/diretor da peça e ao elenco. 

Estes dois textos, principal e secundário, são compostos pela listagem inicial das personagens, pela indicação dos nomes das personagens antes de cada fala, contendo também informações sobre a estrutura externa da peça (divisão em atos, cenas ou quadros), indicações sobre o cenário e figurino das personagens, orientações sobre a movimentação das personagens em cena, bem como as atitudes que devem tomar, os gestos que devem fazer ou a entonação de voz com que devem proferir as palavras. 

No que diz respeito à Estrutura interna, encontramos a “Exposição”, momento de apresentação das personagens e dos antecedentes da ação; o “Conflito”, que é conjunto de acontecimentos que fazem a ação e, consequentemente, a história progredirem; e o “Desenlace”, momento de desfecho da ação dramática que move a trama. 

Em se tratando da Estrutura externa, o texto é separado em “Atos”, que formam cada uma das partes em que se divide uma peça, e “Cenas”, que, grosso modo, fazem a divisão de um ato através da entrada ou saída de personagens. 

Espaço cénico é caracterizado nas didascálias, lugar onde surgem indicações sobre detalhes do cenário, os efeitos de iluminação e sonoplastia. 

Estes espaços cênicos ganham vida, basicamente, a partir de Monólogos – forma em que uma personagem, falando consigo mesma, expõe perante o público os seus pensamentos e/ou sentimentos; Diálogos – falas entre duas ou mais personagens; e Apartes – comentários de uma personagem que não são ouvidos pelo seu interlocutor. 

Após essa breve introdução sobre a forma textual dramática, vou deixar algumas dicas de textos dramáticos interessantes para quem está pensando em começar a se aprofundar nesse universo. Tomei cuidado, para evitar “spoilers”, de colocar apenas a sinopse oficial de cada uma das obras, não dando vasão para a minha opinião pessoal e artísticas em relação aos textos. Escolhi textos de fácil acesso e que, em alguns casos, estão inclusive disponíveis na maioria das bibliotecas, bem como na internet. 

Vamos a nossa primeira lista de indicações: 

Uma Casa de Bonecas (Henrik Ibsen): Escrita em 1879, esta obra é um drama que questiona as convenções sociais do casamento e a exclusão das mulheres na sociedade burguesa da época. 

Por retratar friamente a hipocrisia a que eram submetidas as mulheres, no seio da família e da sociedade, a sua encenação deu origem a variadas polémicas e a reações violentas de censura, com grande repercussão entre as feministas, no final do século XIX. 

Este drama, em três atos, fala-nos de Nora, que vive subjugada pelo marido, Helmer, até decidir abandonar o lar e os filhos em busca da liberdade pessoal. 

Dois perdidos numa noite suja (Plínio Marcos): O texto conta parte da vida de Tonho e Paco, dois empregados de um mercado onde trabalham carregando e descarregando caminhões. Seus ganhos mal chegam para comer e dormir. Os dois dividem um quarto em uma pensão barata, onde tudo acaba sendo compartilhado, inclusive as dores e as esperanças. Neste recorte de uma realidade cotidiana, Plínio Marcos estrutura seu texto, sempre investindo em diálogos agudos e cortantes, nos apresentando uma parte da trajetória de dois párias que não conseguem enxergar saída para as misérias que os assolam. Neste contexto, os dois ainda se apegam em resquícios de uma pretensa dignidade. Tonho batalha por um par de sapatos novos para, assim, poder procurar emprego. Já Paco deseja comprar uma flauta para substituir o instrumento que havia sido furtado e que era seu ganha pão antes do trabalho de “chapa”. Segundo o crítico Antônio Roberto Gerin, “num posicionamento dramático eficiente, Plínio Marcos coloca-os no extremo do corredor, onde há apenas uma porta de saída. Porém, lacrada.”. 

Gota D’Água (Chico Buarque e Paulo Pontes): Gota d’água é uma adaptação de Medeia, de Eurípedes, ambientada à realidade urbana brasileira. 

Na peça, Joana é uma mulher madura, sofrida, moradora de um conjunto habitacional. Ela se apaixona pelo sambista Jasão, que desponta para o sucesso com uma música chamada “Gota d’água”. O todo-poderoso do local é Creonte, dono de casas, muito rico, o poder corruptor por excelência. Alma, sua filha, é uma burguesa metida. Quem desenrola o fio da história, à moda do coro tradicional dos gregos, são as vizinhas de Joana, lavadeiras. 

Assim como na tragédia grega, Joana se apaixona por Jasão, os dois se casam e têm dois filhos. Depois, Joana é traída por Jasão, que se apaixona por Alma. Como na história de amor e vingança clássica, Joana provoca uma terrível tragédia. O texto apresenta nossa realidade, que é também, por extensão, a realidade de todos os oprimidos do mundo. 

O Rinoceronte (Eugène Ionesco): O Rinoceronte é certamente a obra mais conhecida de Eugène Ionesco; nela, ante a resistência e o assombro do protagonista, os habitantes de uma vila se transformam em rinocerontes. Nesta peça, Ionesco expressa de modo cabal sua concepção de teatro, fundada na ruptura lógica e na fuga do natural visível, de onde extrai a matéria para a sua singular comicidade. 

Nossa vida não vale um Chevrolet (Mário Bortolotto): O clima de anos 70, a tragédia familiar (quem tem mais de dois irmãos sabe bem do que eu estou falando), a coisa colocada nas bordas da vida, o sarcasmo, o niilismo, a virulência, a atualidade, o dilema dos personagens. As vidas sem saída. A agudez, poesia e transcendência do texto de Bortolotto.  

Psicose 4.48’ (Sara Kane): Segundo o crítico Carlos Monteiro, a obra mais experimental da dramaturga londrina procura dar forma a pensamentos de uma mente psicótica. Sua quinta e última obra aborda depressão profunda e o que acontece quando desaparecem as barreiras entre imaginação e realidade. A doença e os tratamentos psiquiátricos a que a autora se submeteu são matérias-primas do texto. Permeando entre o dramático, o lírico e o narrativo, expõe a alienação causada por remédios, desejos truncados e vozes que, como um fluxo de consciência, ou de inconsciência, falam sobre memórias e alucinações. O sujeito da narrativa não linear é a mente psicótica, que por ser exposta permite ao público nela se reconhecer. 

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Essas são apenas algumas indicações de textos de fácil acesso e que podem atender diversas preferências de estilo e temática. 

Espero que tenham gostado das dicas. Busquem pelos textos, são todos muito interessantes e, entre si, distintos pela época, forma e linguagem. 

Leiam as peças e depois me digam o que acharam destes textos. 

Estou curioso para saber a opinião de vocês. 

Até a próxima! 

Comentários:
Isaque Conceição

Publicado por:

Isaque Conceição

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