Guaíba registra 55 casos confirmados de dengue em 2024, o maior número registrado da doença em toda a sua série histórica. A Vigilância Epidemiológica da cidade tem alertado a rede de saúde para o possível aumento de casos, assim que as águas da enchente e alagamentos começarem a baixar.
Conforme a gerente Diana Tremea, os casos positivos de dengue depois da enchente ainda não foram registrados devido a demora do resultado de exames. "Não temos ainda o resultado do aumento de casos relacionados com a enchente, e esse aumento pode aumentar significativamente depois que as águas baixarem. Estamos num período de água circulante, e os criadores dos mosquitos Aedes aegypti precisam que as águas fiquem paradas", explica.
A Vigilância passou orientações para diagnóstico diferencial da leptospirose e dengue. A orientação é que, com os sintomas semelhantes e dúvida no diagnóstico, seja realizado a notificação das duas doenças para que a Vigilância agende as coletas e realize as investigações para confirmar ou descartar os casos.
A cidade tem seis casos confirmados e 20 casos suspeitos de leptospirose neste ano, de acordo com boletim epidemiológico desta segunda-feira (27). Dois óbitos foram registrados: um em março e outro em 17 de maio, chegando a conclusão que as contaminações ocorreram antes do período da enchente.
A doença é transmitida pelo contato com a urina de ratos e outros animais infectados misturada à enxurrada e à lama. A recomendação é que logo nos primeiros sintomas, como febre, dor de cabeça, fraqueza, dores no corpo e calafrios, a população procure imediatamente um serviço de saúde.
Com veranico, temperatura mais alta favorece proliferação do Aedes
Mesmo não sendo, em princípio, um período propício à explosão de casos de dengue por estar com temperaturas mais baixas, a atenção com a doença é mais uma na lista de preocupações das autoridades de saúde em consequência das chuvas intensas e dos alagamentos que vêm ocorrendo no Rio Grande do Sul. Os casos costumam ocorrer no verão, mas, segundo o pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Cristóvão Barcelos, também podem aparecer em maio, no período chamado de veranico, quando as temperaturas se elevam.
“O Rio Grande do Sul tem o famoso veranico de maio – todo gaúcho fala isso. E costuma ser um período de calor. A temperatura baixa em abril, mas, em maio, estamos em regime de El Niño – não sei se vai acontecer este ano, mas é quase um tempo histórico de clima lá no Sul, muito comum. É o que eles chamam de veranico, uma pequena onda de calor já quando deveria ter frio”, disse Barcelos à Agência Brasil.
Além disso, há possibilidade de ocorrerem novas ondas de calor, como já se viu na região. “Nesse quadro todo de calamidade, [com] perda de serviço e de abastecimento de água, de quebra da infraestrutura urbana, se houver uma onda de calor nas próximas semanas, pode acontecer um grande surto de dengue”, afirmou o pesquisador. Segundo ele, isso pode acontecer em outros estados, porém, no Rio Grande do Sul, a situação torna-se mais grave, porque a infraestrutura do estado foi extremamente prejudicada.
“Seria terrível. Pior do que os outros estados, que estão mais ou menos com a infraestrutura urbana intacta. Eles [gaúchos] estão com tudo destruído. Imagina, como vai eliminar foco com uma situação dessa? Os agentes estão trabalhando em outras coisas. As pessoas não podem mais cuidar do seu quintal, do lixo acumulado. Muita coisa virou lixo, uma geladeira quebrada – tudo isso pode se transformar em local de foco do mosquito, se houver uma onda de calor”, observou.
Barcelos acrescentou que os ovos do mosquito Aedes aegypti têm capacidade de resistência muito grande ao frio, ficam cristalizados nas paredes de diversos recipientes e, se tiverem contato com uma água mais quente e parada, eclodem e chegam à fase adulta e começam a voar.
De acordo com a Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul, nos últimos anos, casos de dengue têm sido confirmados em todo o período de inverno, inclusive nas semanas mais frias. “Costumamos dizer que o inverno é um período de baixa transmissão em relação ao verão, mas não podemos baixar a guarda diante de baixas temperaturas, pois sabemos que temos 468 municípios infestados e teremos muitos municípios com acúmulo de entulhos e possíveis criadouros”, respondeu a secretaria à Agência Brasil.
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