Guaíba registrou aumento de casos de violência contra a mulher no primeiro semestre de 2025, de acordo com dados da Secretaria Estadual de Segurança Pública. A cidade teve um crescimento de 25,6% nas ocorrências de ameaça, e os casos de estupro dispararam de oito para 23 (+187,5%), em comparação ao mesmo período do ano passado.
O único crime que registrou diminuição nos indicadores foi o de lesão corporal, que caiu de 93 para 79 (-15,05%). Nenhum caso de feminicídio foi registrado nos últimos três anos. O último ocorreu em novembro de 2022, quando um policial militar matou a então namorada, Mariana Canofe Marques, de 21 anos.
A delegada de polícia Karoline Calegari acredita que os números podem ser considerados positivos, com nenhum feminicídio e queda nas tentativas de feminicídio (de quatro para zero no período). "A quase totalidade dos estupros registrados diz respeito a crimes praticados no ambiente doméstico, por marido, ex-marido, namorado ou ex-namorado. O que acontece é que as mulheres, anteriormente, não procuravam a delegacia para comunicar que se sentiam forçadas a ter uma relação sexual. Hoje, elas têm a certeza de que isso é um tipo de violência e se sentem encorajadas a denunciar na nossa delegacia. Então, não acredito que tenha ocorrido um aumento de casos de estupro, mas sim um aumento da coragem das mulheres em relatar esses episódios", avalia.
Veja a quantidade de ocorrências de violência contra mulher dos últimos oito anos:

Ao longo dos últimos meses, o Centro de Referência Jussara Brito tem mantido um volume constante de atendimentos, com picos significativos em dezembro de 2023 (244 atendimentos) e maio de 2025 (247). "Esses números apontam para uma crescente demanda pelos serviços do Centro, o que pode estar associado tanto ao agravamento das situações de violência quanto à maior confiança da população no serviço, fruto de ações de visibilidade, qualificação técnica da equipe e fortalecimento da rede de proteção. É importante destacar que, mesmo com oscilações mensais, a média de atendimentos se mantém alta, evidenciando o papel essencial que o CRAM desempenha no acolhimento, orientação e acompanhamento das mulheres em situação de violência", explica a coordenadora Ana Paula Sigas.
No que se refere aos tipos de violência registrados, a violência psicológica aparece como a mais recorrente, com 153 registros, seguida pela violência física (125), moral (102), patrimonial (52) e sexual (42). Esse perfil é coerente com o que apontam estudos nacionais: a violência psicológica é uma das formas mais comuns e persistentes, muitas vezes antecedendo outras agressões mais visíveis. Segundo Ana Paula, "o número significativo de casos de violência física e sexual também revela que, em muitos contextos, a escalada da violência atinge patamares graves antes da intervenção do serviço. Isso reforça a importância de ações preventivas, escuta qualificada e fortalecimento da rede, para que as mulheres busquem ajuda nos primeiros sinais de agressão".
Um dado que merece atenção especial é que 65,2% das mulheres atendidas possuem filhos com o agressor. "Essa informação é crucial, pois revela a complexidade das dinâmicas familiares envolvidas e os obstáculos adicionais enfrentados por essas mulheres na hora de romper com o ciclo da violência. A presença de filhos pode representar tanto um fator de vulnerabilidade quanto uma motivação para a busca por proteção e autonomia, exigindo do serviço um olhar interseccional e uma atuação articulada com políticas de assistência social, educação e saúde", avalia a secretária de Políticas para Mulheres, Direitos Humanos e Cidadania, Thais Quintana.
A análise territorial mostra concentração de casos em determinados bairros, especialmente no bairro Santa Rita, que sozinho concentra 42 registros — número significativamente superior aos demais territórios. Também se destacam os bairros Columbia City (19), Primavera e Pedras Brancas (ambos com 16), o que aponta para regiões prioritárias na descentralização das ações do CRAM, seja por meio de plantões itinerantes, rodas de conversa, campanhas ou formação de lideranças comunitárias.
Para a secretária, diante do cenário apresentado, é evidente que o CRAM Jussara Brito tem desempenhado um papel essencial no enfrentamento à violência contra a mulher em Guaíba, não apenas acolhendo e orientando as vítimas, mas também promovendo caminhos concretos para a reconstrução de suas vidas. Como parte desse compromisso com a autonomia e o fortalecimento das mulheres, o CRAM passou a disponibilizar cursos de capacitação voltados especialmente àquelas que acessam o serviço. Essas formações têm como objetivo oferecer oportunidades de geração de renda, desenvolver habilidades profissionais e ampliar as perspectivas de independência financeira — elemento fundamental para o rompimento definitivo com o ciclo de violência.
"Em síntese, os dados demonstram que o CRAM Jussara Brito é um equipamento fundamental na garantia de direitos das mulheres e no enfrentamento à violência de gênero no município. O aumento da procura pelo serviço, os tipos de violência registrados, a vulnerabilidade econômica das atendidas e a forte presença de filhos na relação com o agressor indicam que o trabalho do Centro deve seguir sendo fortalecido, com ações cada vez mais integradas, descentralizadas e focadas na proteção integral das mulheres. Esses elementos devem orientar não apenas as ações cotidianas da equipe, mas também o planejamento estratégico e as articulações intersetoriais necessárias para garantir um atendimento qualificado, eficaz e humanizado", conclui a secretária.
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