Uma das marcas da coluna nesse quase um ano de existência são as entrevistas com os agentes locais. Dar visibilidade aos trabalhadores da Cultura e, muitas vezes, apresenta-los aos nossos vizinhos é um dos objetivos deste espaço de compartilhamento.
Depois de algumas semanas falando de assuntos mais envolvidos com as rotinas do nosso contexto cultural municipal, tenho a satisfação de trazer essa conversa com mais um dos nossos brilhantes artistas locais.
Nosso retorno às entrevistas vem em grande estilo. Pude conhecer um pouco mais da trajetória do produtor audiovisual Matheus Almeida dos Santos, ou simples e maravilhosamente conhecido como Sky Walk. Uma figura extremamente doce e criativa que, assim como outros tantos talentos de nossa cidade, compartilham os espaços e calçadas de nossa cidade de forma quase anônima.
Mais um grande valor de nossa cidade que todos precisam (re)conhecer. Portanto, sem mais delongas:
Respeitável público! Com vocês o músico, produtor cultural e andarilho celestial: Sky Walk!!!
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DRONE CULTURAL - Conte um pouco sobre a tua trajetória no audiovisual. Como a arte entrou na tua vida?
SKY – Para te falar a verdade, a minha relação com o audiovisual foi por acaso. Sou formado em produção audiovisual, sempre tive uma paixão por longa metragens, ver o processo, gosto da estética, acredito que não é apenas lançar uma música, o conceito fala muito mais do que a obra em si, faça o melhor bolo, com os melhores ingredientes, mas é sempre a cobertura que chama a atenção, é preciso ter harmonia em todos os elementos.
DC – Para ti, o que é arte?
SKY – Eu tenho uma admiração muito grande pelo Edvard Munch, que é referência na arte impressionista, ele diz que a arte é resultado da insatisfação com a vida, o ponto de impacto da força criativa, o movimento contínuo da vida. Faço dessas palavras as minhas, é a linguagem da minha alma, porém me sinto muito amador, pois só consigo me expressar da maneira intensa quando estou muito triste ou quando estou apaixonado, seja lá o que for.
DC – E Cultura? Como você define a Cultura?
SKY – Acredito que a cultura é o reflexo de uma época, sempre foi isso, Beatles, Pink Floyd, Michael Jackson, Raul Seixas, o Funk Carioca, e recentemente o Trap, é apenas o reflexo do que estamos vivendo, é uma constante metamorfose, Platão já dizia: “Cuidado com a música que o governo dá às pessoas, eu conheço um estado pela música que os governantes dão ao povo”.
DC – Quando e por que o Matheus se tornou Sky Walk?
SKY – Como eu disse, sempre gostei do cinema, do teatro, a atuação é algo que me encanta. O Sky Wallk nada mais é que um alter ego, vamos dizer, é tudo que o Matheus queria ser e não tenho coragem, entende? Eu criei o Sky Wallk quando ainda era pequeno, mas no começo era Skywalker (E não, não é por causa do Star Wars). Ser o Sky me libertou da timidez que tinha ao fazer show ou estar em público, permitir ser o que eu quisesse e mesmo assim protegendo a minha privacidade. Eu peguei o que tinha de melhor em cada artista que eu amava e adaptei ao tipo de pessoa que eu queria ser, é a metáfora do bolo, misturar o melhores ingredientes. Mas teve um amigo que definiu o sky wallk nada mais que na tradução literal mesmo: o andarilho do céu. Deve ser mesmo, como diz C.S Lewis: “Eu descobri em mim mesmo desejos os quais nada nesta Terra pode satisfazer. A única explicação lógica é que eu fui feito para outro mundo.”
DC – Quais são as tuas referências? Onde você busca inspiração?
SKY – Gosto de tudo que é visionário. Minha referência sempre foi A Soul Music, Michael Jackson, Earth, Wind e Fire, Abba, Supertramp, Marvin Gaye, Tim Maia, Beatles, mais especificamente George Harrison, mas tem coisas que eu gosto da cena atual como Tyler The Creator, Bruno Mars, Childish Gambino, Tame Impala, Mac Demarco e recentemente Aldous Harding. Já a minha inspiração de quem eu sou, vem do universo, sigo a filosofia Hermética, a ideia de ser um alquimista sempre me atraiu, sou místico.
DC – Qual é o maior desafio dentro do teu segmento?
SKY – Pessoalmente...a solidão, já artisticamente acredito que faço parte da contra cultura, o que faço não é o que está sendo consumido pelas mídias ou pelos populares, e também nunca busquei me adaptar a cena atual. Procuro ser Fiel ao que sinto e ao que sou. Se eu fizesse algo só porque dá dinheiro ou algo que faz “sucesso”, já não seria mais eu. Por isso continuo deixando meu legado aonde eu vou. Ultimamente não enxergo autenticidade no meio artístico, então meu mantra é: “aquilo que busquei, e não encontrei, me tornei.”
DC – O que a Arte acrescentou na tua vida?
SKY – Eu sou a Arte, é algo homogêneo, desde que nasci ela está em mim, e define tudo que sou, seja arte de escrever, de falar, de pensar, ver, sentir ou ser.
DC – Como a tua família reage em relação ao que tu fazes? Como eles encaram a tua escolha e esforço pela carreira? Eles têm uma relação de proximidade ou nem conseguem acompanhar a dinâmica das coisas que você faz?
SKY – Meus pais tiveram grande influência no que sou, e me sinto abençoado por isso, porque meu pai sempre foi fã de Beatles, Pink Floyd, Raul Seixas e minha mãe trouxe Michael Jackson, Bee Gees, James Brown. Então, quando criança, sempre estive cercado desse tipo de música. A minha irmã é minha conselheira em termos artísticos, sempre esteve comigo, assim como a minha mãe. É um privilégio, mesmo que em alguns momentos elas me achem meio doido pela forma que enxergo o mundo.
DC – Você pode dividir conosco algum momento, dentro da tua trajetória, que tenha te emocionado além do "normal"?
SKY – Sim, claro, acho que foi a primeira vez que comecei a estampar capas de jornais, aquilo pra mim foi surreal. Já imaginava que isso ia acontecer, mas quando o momento chega, é muito mais intenso do que a maneira como imaginamos, ser reconhecido pelo seu trabalho, é o auge.
DC – Sei que você já realizou uma turnê pelo Brasil para mostrar o teu trabalho. Gostaria que você nos contasse um pouco sobre essa aventura e como você organiza a sua carreira.
SKY – Sou extremamente independente, eu gravava minhas músicas no celular que tinha em 2017, e editava tudo por ele, e como escrevia em inglês, é aonde encontro mais facilidade para escrever, fazia a arte do vídeo e legendava, e meu público sempre foi fora da cidade. Guaíba, infelizmente, sempre desprezou a minha arte. A maioria das pessoas que gostavam das minhas músicas sempre eram de São Paulo, do Nordeste, o pessoal do Pará, Amazonas, Minas Gerais que eu sou apaixonado. Sempre fui amado pelo Brasil, exceto aonde eu morava, e isso é frustrante, então juntei minhas economias e sai pra conhecer essas pessoas que amavam o que eu fazia. Durou 3 meses, fui apenas com uma mochila e o violão, e a maneira como me sustentava era fazendo shows em cada cidade. Foi uma experiência incrível, passei por Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Maranhão e Pará.
DC - Também tive a oportunidade de conhecer o trabalho do teu coletivo, o Molera Boys Club. Uma das iniciativas mais especiais existentes em nossa cidade. Conta para o nosso leitor como funciona o projeto de vocês.
SKY – É uma extensão de tudo que vivi e que outros artistas também viveram. A desvalorização da arte, muitos dizem como é difícil a vida do artista, mas ninguém considera o quanto é difícil pro artista, não ser artista. A minha missão nada mais é que resgatar a esperança naqueles que sonham em ser aquilo que sempre quis, é sobre plantar a ideia de que você pode ser o que você quiser, mas não teoricamente, apenas com palavras motivacionais, mas sim no ato. A Mbc é um selo independente, onde todos que participam tem o mesmo propósito, um sonho sonhado junto, vira realidade.
DC – Qual é a importância de iniciativas como a de vocês?
SKY – Para ser sincero, não sei te dizer, não é uma coisa que cabe a mim falar, acredito que o tempo dirá. A semente foi plantada, acho que é só isso que posso dizer.
DC – O acolhimento a diversidade de expressões artísticas e culturais é fundamental para a dinâmica de um contexto cultural pulsante e amplo. De que forma o Poder Público pode contribuir para que as ações de vocês possam surtir ainda mais efeito?
SKY – Acho que a primeira coisa que o poder público poderia fazer é olhar a sua volta, e não só para seu próprio umbigo, mas isso ocorre desde o início da civilização. Acredito que tudo se desencadeia depois que eles enxergarem. Enquanto estiverem cegos pelo seu falso agir, não há o que esperar.
DC – E a sociedade? Como a sociedade pode colaborar para que mais iniciativas como a sua experimentem uma realidade menos marginalizada?
SKY – Ter Coragem, ser autêntico, o mundo não precisa de mais um Michael Jackson, de um Raul Seixas, de outra Anitta ou Beyonce, o mundo precisa de mais uma Ana, do Pedro, da Julia, do Victor...a fraternidade é uma palavra muito forte, enxergar o outro, devemos apoiar o trabalho dos nossos amigos, assim como as pessoas apoiam artistas que nem conhecem.
DC – Quais sonhos/objetivos você alimenta para o seu futuro artístico/profissional?
SKY – Secretamente e intimamente, bem lá no fundo, há um destino, e eu devo me manter no caminho e segui-lo. Sinto e acredito que estou aqui por um motivo, e o meu trabalho é me apresentar para as pessoas, a aceitação delas é a minha “recompensa”. Enquanto eu tiver a opção de ser melhor, eu vou querer ser. Estudo os grandes, e quero continuar da onde eles pararam. Pode ser meio pretencioso dizer isso, porém é o que sinto, e o que sinto é que quero ser o maior artista de todos os tempos, e trabalho cada vez mais por isso. Como dizia Schopenhauer: “o importante não é ver o que ninguém nunca viu, mas sim, pensar o que ninguém nunca pensou sobre algo que todo mundo vê.”.
DC – Tem uma pergunta que eu sempre gosto de fazer. Ela me ajuda a entender um pouco mais a personalidade dos meus entrevistados. Vou aproveitar e fazer ela para você também:
Se tu pudesses viver em um filme, em um livro, em uma série, em uma música, em um quadro, enfim, em uma obra de qualquer gênero, qual personagem tu gostarias de ser ou interpretar? Eu seria uma espécie de Don Quixote ou qualquer coisa desse naipe. E tu? Qual é a tua viagem?
SKY – Com certeza, o livro do Pequeno Príncipe me inspira. Me vejo totalmente nele. É um livro que levaria para uma ilha deserta. Sempre quis ser o pequeno príncipe. Seja a maneira estética como a maneira de ser, eu amo muito e tento imitá-lo.
DC – Como você gostaria de ver o cenário cultural guaibense nos próximos anos?
SKY – Como referência para outros lugares, ver Guaíba no Mapa, que seja o berço dos maiores artistas que já existiram no Brasil, e que ecoe por toda a eternidade.
DC – Para quem tem vontade de seguir esse caminho, que conselho você pode dar?
SKY – Entre para o Molera Boys Club, não... Estou brincando. O conselho é acreditar no que tu faz, porque se tu não acredita, ninguém vai poder fazer por ti. E o feito sempre será melhor que o perfeito, se esperar pelas condições perfeitas, tu nunca vai fazer nada.
DC – Alguma referência para seguir, ler ou assistir?
SKY – Aforismos para sabedoria de vida, de Arthur Schopenhauer ou qualquer carta do Sêneca. E algo para ver, indicaria Midnight Gospel.
DC – Uma última pergunta: O que é sucesso?
SKY – Acho que é só a soma de pequenos esforços diários, a disciplina é tudo! Acredito na lei da semeadura, entendendo isso, descobre o segredo da vida. Eu nunca sonhei com o sucesso, trabalhei para ele.
DC – Estamos encerrando a nossa conversa.
Não poderia deixar de agradecer muito a tua disponibilidade para esse bate-papo comigo.
Esse é um espaço de contato com a nossa comunidade. Gostaria que você deixasse um recado para os colegas trabalhadores da Cultura e também para todos os nossos vizinhos.
Pode falar o que quiser.
SKY – Vocês acreditam em Et?
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E aí? Já conhecia o Sky?
Que figura interessante, né?
Eu estou encantado com ele e com o coletivo que ele montou.
E pensar que temos muitos talentos batalhadores como esse em nossa cidade.
Está sendo um prazer conhecer a trajetória de cada um deles e compartilhar com você aqui nesse espaço.
O que não falta é artista de qualidade em Guaíba.
Quer conhecer mais alguns deles?
Então continua acompanhando o Drone Cultural. Logo ele traz mais um talento pinçado durante algum rasante pelo nosso cenário cultural.
Fique ligado!