Semana passada alguns amigos me indicaram a série Dark. Como de praxe, perguntei sobre o que se tratava a série e um deles respondeu: “é uma série com viagem no tempo, buracos de minhoca e outras coisas”. Os conceitos de tempo e espaço, as reflexões que podemos fazer sobre eles sempre me fascinaram e por conta disso “maratonei” a série. Alguns paradoxos e conceitos da física aparecem durante a trama e me fizeram refletir sobre diversas situações no longo da história. Na coluna de hoje falarei sobre um paradoxo temporal bem conhecido e que está presente em Dark: o paradoxo do avô. Meu intuito não é aprofundá-lo conceitualmente e sim, permitir que vocês viagem para um mundo de possibilidades e contradições.
Primeiramente é importante sabermos o que significa o termo "paradoxo": implicação recíproca entre uma proposição e sua própria negativa (dicionário Aurélio). Em outras palavras, é uma relação infinita de Causa & Efeito. A questão “Quem vem primeiro? O ovo ou a galinha?” é um paradoxo popular. Para existir uma galinha, deve ter existido um ovo do qual ela saiu, mas esse ovo foi gerado por uma galinha que saiu de outro ovo e assim entramos num ciclo infinito de causa e efeito. As respostas são várias. Por exemplo, se eu acredito no criacionismo, a galinha veio primeiro, pois Deus criou todos os seres vivos no quinto dia da criação (Genesis). Mas se eu evolucionista, o ovo veio primeiro pois existe desde a época dos dinossauros que são seres vivos complexos que evoluíram de estruturas microscópicas através do tempo (aproximadamente 4,5 bilhões de anos). Agora, puxando a brasa para o meu assado, se acreditamos na mecânica quântica, ambos estados (ovo e galinha) existem na origem até que observemos ou um ou outro e este venha a colapsar para aquilo que vemos.
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A série Dark apresenta durante a trama o paradoxo do avô. Confesso que não o conhecia, embora seja popular. A história desse paradoxo gira em torno de uma pergunta: “O que aconteceria se eu viajasse no tempo e matasse meu avô antes do nascimento de um dos meus pais?”. Pensemos, se eu matei meu avô antes de um dos meus pais nascerem, logicamente um deles não nasceu e consequentemente eu não nasci. Mas se eu não nasci, não construirei a máquina do tempo e não viajarei através dela para matar meu avô. Se eu não o matar, um dos meus pais nascerá, eu nascerei e construirei a máquina do tempo que será a causa da morte do meu avô.
Vejam como é um ciclo infinito de causa e efeito. Vamos refletir! Digamos que eu nasci, construí a máquina, viajei no tempo e matei meu avô. Será que a minha existência seria apagada logo após eu matá-lo? Ou apenas as existências futuras seriam apagadas? Ou as coisas mudariam apenas a partir daquele? Existem outras linhas temporais?
Nós aprendemos na escola e lidamos no cotidiano com a ideia de tempo linear, ou seja, o transcorrer do tempo é uma sequência contínua de eventos, sem saltos. É difícil desapegarmos dessa ideia pois a nossa atividade cotidiana gira em torno de um tempo linear (que nada mais é que uma convenção humana). Nesse momento estou lendo o livro intitulado Universo Quântico: tudo que pode acontecer realmente acontece de Brian Cox e Jeff Forshaw (2017). É um livro que de forma mais didática, explica os fundamentos da física quântica. Entre os temas abordados está a questão do tempo não-linear, explicado através da coexistência de estados possíveis de uma partícula que se desloca no espaço. Estou falando isso pois os autores dizem que somente quanto vemos onde tal partícula chegou é que podemos – com certo grau de certeza – dizer qual o caminho traçado mais provável (não tem nada a ver com aleatoriedade), afinal, enquanto não vemos ou medimos nada, não podemos dizer nada sobre essa partícula. A física quântica, de maneira bem simplória, está associada ao grau de informação que temos ou podemos obter sobre um dado evento.
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Tudo isso, caros leitores, para dizer que é interessante nos permitirmos imaginar e começarmos a fazer suposições e reflexões sobre o conceito de tempo. O que é o tempo? Podemos mudá-lo? Existe mais de um? Se pensarmos nos paradoxos que apresentei, os eventos ocorrem ao mesmo tempo? Um ocorre antes do outro? Se sim, o que o define como primeiro? A observação? A morte avô? Onde é o início? Onde é o fim da linha? Há uma linha? São perguntas cuja resposta depende do nosso repertório teórico e pessoal. Para cada pergunta existem muitas respostas possíveis, mas junto a elas surgem mais perguntas. Eu não me atrevo a dizer o que é o tempo, mas penso que podemos defini-lo a partir de contextos, e esses são diversos. Portanto, o tempo é relativo, mas também pode ser absoluto.
Alguns conceitos ou termos vão além daquilo que vemos ou vivemos, alguns ganham sentido na imaginação. Sendo assim, ao refletirem sobre conceitos que de alguma forma são abstratos, permitam-se ir além dos sentidos, daquilo que vivemos, pois “não iríamos muito longe em física se restringíssemos nossa descrição do universo a coisas diretamente perceptíveis pelos sentidos” (COX & FORSHAW, 2017, p. 48).
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