Como se já não bastasse a luta pelo sustento, constantemente precisamos desenhar para a sociedade a real importância da cultura e sua cadeia econômica. Isso faz parte da nossa rotina. O problema é lidar com algumas almas trevosas que deveriam batalhar para ter uma visão ampla sobre as coisas e insistem em permanecer afogados na ignorância.
Já não é novidade para os agentes culturais esse estereotipo que nos envolve. Não são poucas as vezes que vemos pessoas espalhando desinformação e equívocos em suas redes sociais.
Acredito que a falta de conhecimento é até compreensível em uma sociedade tão desigual, porém, para mim, a ignorância por opção e como ferramenta de marketing eleitoral é a demonstração pura da falta de caráter e da mais gritante incapacidade para ocupar cargos públicos.
Para os que ainda tem capacidade de aprender, a coluna de hoje vai elencar alguns tópicos onde a cultura é imprescindível para o desenvolvimento humano e econômico.
O pensamento raso que ditou as convicções do senso comum no decorrer do tempo sempre entendeu a ideia de desenvolvimento como sinônimo exclusivo de crescimento econômico. Entretanto, percebe-se que o crescimento econômico, por si só, não conduz necessariamente a uma melhoria na qualidade de vida.
Tendo essa constatação como ponto de partida, as pesquisas acerca das características do que se considera desenvolvimento começaram a observar e incorporar outros fatores e questões em suas análises. A partir dos anos 60, ao se pensar sobre os fatores que contribuem para o desenvolvimento, a Cultura passou a ser observada como uma dessas variáveis que se tornaram temas muito presentes no debate acadêmico e político.
Mesmo com essa expansão da investigação, ainda contamos com poucos trabalhos voltados a entender e sistematizar os pontos de intersecção entre Cultura e Desenvolvimento.
Sendo assim, trago de forma breve algumas possíveis relações entre essas duas áreas:
Identidade e diversidade cultural a serviço do desenvolvimento:
Os estudos sobre os aspectos culturais pretendem nos estimular a perceber e valorizar as diversas maneiras de fazer, pensar, se expressar e viver nesse mundo tão diverso. Dessa forma, o desenvolvimento se apresenta como um efeito resultante desses fatores e também como uma escolha cultural. As sociedades precisam, a partir de suas características, pretensões, vocações e possibilidades, determinar seus projetos de desenvolvimento tendo em vista e respeitando as suas próprias identidades.
A cultura como eixo de crescimento econômico:
Os setores culturais, a partir das ações da dita economia criativa, vêm apresentando um desempenho econômico espetacular. Em muitos casos, esses resultados são superiores aos alcançados por atividades tradicionais da economia. A cultura, a partir de seus diferentes segmentos, demonstra possuir um impacto relevante para a arrecadação tributária, geração de emprego e renda, reservando energia para determinar um alto efeito multiplicador (capacidade para impulsionar reinvestimentos). Um desses efeitos, como eixo de desenvolvimento econômico, é o fortalecimento de cadeias ligadas também ao turismo. Dessa forma, a cultura gera mais que sentimentos, ela gera prosperidade.
A cultura como matriz de valores:
A construção das bases do processo de desenvolvimento de uma sociedade depende diretamente do conjunto de valores estabelecidos por esta. Estas escolhas orientam de forma determinante algumas das dimensões básicas e estruturantes de uma comunidade. Definições que influem desde o funcionamento das burocracias e afetam até mesmo no comportamento de consumo dos indivíduos. Os valores simbólicos estabelecidos também acabam por determinar quais serão os objetivos do desenvolvimento pretendido. Dessa forma, a cultura é uma importante fonte de manutenção, transmissão e transformação dos valores que regem uma sociedade, seja ela qual for.
A cultura na formação intelectual dos indivíduos:
A competitividade de empresas e dos países está atrelada a formação intelectual das pessoas. Pensando por esse viés, o consumo e a fruição cultural são fundamentais para determinar o grau de desenvolvimento e a capacidade cognitiva dos indivíduos, estimulando a criatividade e o tão necessário pensamento crítico. A Cultura, em conjunção com a Educação, torna-se fermento para o desenvolvimento intelectual de uma pátria.
A cultura como eixo de desenvolvimento sustentável:
O setor cultural também causa um baixo impacto nocivo ao meio ambiente. Produções cinematográficas, literárias e musicais, por exemplo, não necessitam de um grande consumo de insumos naturais. Para a produção cultural também não são imprescindíveis grandes estruturas físicas e a quantidades de resíduos produzidos acaba não sendo volumosa. Também vale salientar que essa característica voltada a sustentabilidade é um dos fatores de geração da maior valorização de produtos e serviços advindos da moda, das artes plásticas e do artesanato, por exemplo. A Arte acaba sendo um agente de reaproveitamento e ressignificação de materiais destinados ao descarte.
A cultura e a transversalidade com demais políticas:
Transversalidade virou uma das palavras da moda e a cultura, graças a essa característica implícita, acabou se tornando um dos eixos estratégicos para impulsionar o desenvolvimento. A cultura propõe e estabelece o intercâmbio com, e entre, as mais diversas políticas públicas, sejam estas nas áreas da saúde, da urbanização e educacionais, entre outras. São diversos os casos em que a Cultura serve de instrumento para programas de transformação social nas comunidades em estado de vulnerabilidade. As políticas culturais salvam vidas e, se aliadas a outras iniciativas de proteção e resgate, se transformam em espécies de molas propulsoras para o desenvolvimento humano e social.
Cultura como objetivo do desenvolvimento:
Os aspectos aqui elencados nos apresentam a C]cultura como um meio de atingir o desenvolvimento humano e construção do projeto de uma nação. Entretanto, se um dos objetivos do desenvolvimento consiste na melhora das condições de vida de uma sociedade, o acesso a Cultura pode tornar-se um dos fins dessa ação, ambicionando, por exemplo, garantir aos cidadãos o exercício de seus direitos culturais e o consequente desenvolvimento nas mais diversas áreas de presença, atuação e relação dos seres humanos.
Poderia elencar outros tantos tópicos onde a Cultura e o Desenvolvimento andam de mãos dadas, mas vou deixar para alguns dos nossos próximos encontros aqui neste espaço.
O mais importante:
Não subestimem a cultura e sua capacidade espetacular de contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade, seja intelectualmente, seja economicamente.
Nenhuma nação sobrevive sem estímulo e respeito a cultura.
Somos mais que entretenimento, diversão e alimento para a alma.
Somos parte da economia e muitas das variáveis que determinam a identidade de um povo.
Somos a "vida" em todas as suas dimensões e necessidades.
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