Don Barulho era um apaixonado pela tradição, pelas coisas da nossa cultura, dos nossos costumes. Se Don Barulho conhecesse Sofia Graboski, ficaria impressionado com a habilidade da pequena em transformar músicas conhecidas em verdadeiras obras de arte.
Com seu jeito meigo, infantil e alegre, Sofia é dessas que tá sempre com um sorriso pronto pra entregar.
Vou me atrever a contar um pouco dessa história, mesmo sendo um espectador distante, mas vou me esmerar, como se Don Barulho estivesse interagindo comigo, afinal esse velho era minucioso, perspicaz e observador, com certeza teria muita propriedade se a conhecesse.
Sofia era uma menina que chegava devagarinho nas rodas de cantoria, lá pelo CTG Gomes Jardim, e já expressava seu canto, incipiente, iniciante, mas com uma detecção rítmica e tonal incrível.
No princípio era tudo brincadeira, uma forma de se divertir, nos divertir e deixar a música voar ao redor dos ambientes, com a voz de menininha, mas já demonstrando talento.
Aos poucos Sofia foi se desenvolvendo, buscando repertório, aprimorando conceitos, ensaiando, crescendo, não só no tamanho, mas na percepção vocal.
O convívio no CTG levou-a ao mundo dos rodeios, das competições de intérprete vocal, com isso ela precisou ensaiar ainda mais, foi nesse instante que se notou um diferencial, disciplina e dedicação, afinal ela só tinha 11 anos, mas era dedicada e persistente ao extremo.
Como tudo aquilo que plantamos com afinco e regamos com presteza, vinga, não foi em vão sua dedicação, Sofia começa a despontar nos concursos, demonstrando uma voz afinada e de bom alcance, tem percepção rítmica impecável e aprendeu a dominar o palco e o microfone desde cedo, era como se já estivesse pronta desde o berço.
Uma característica nobre da Sofia é a paixão que carrega pela música e o afeto que passa aos que comungam desse gosto com ela, não há concorrente, mas parceiros de mesmo dom, companheiros da mesma arte, ela abraça e deseja boa sorte para todos que circulam ao seu redor.
A família uma base sólida e definitiva para que Sofia possa começar a abrir as asas, sempre com o apoio de todos, pai, mãe, irmãos, tias, avós, tem um time de contrarregras nos bastidores que dão suporte e apoio total a Sofia.
Nesse último domingo, 26 de outubro, Sofia subiu mais um degrau, adentrou ao mundo dos Festivais Nativistas, participando da 11ª edição da Searinha, em Carazinho. Sofia foi classificada entre tantos concorrentes como uma das 5 melhores vozes mirim do estado.
Como não está ainda, habituada a palcos dessa envergadura, Sofia, a pequena gigante, colapsou ao se deparar com tamanha imponência, som, iluminação, palco, plateia, tudo com proporções ainda desconhecidas da menina que canta nos rodeios pelo seu CTG, agora estava em uma “arena” maior, muito maior do que ela conhecia.
Escutou outros companheiros passando suas músicas e trincou o vidro dos olhos, mas como o Grande Arquiteto trabalha sempre pela bondade, Sofia estava cercada de bons anjos, uma delas, chamada Vale Mazuí (Valentina Mazuí) uma também notável, de voz marcante, com um pouco mais idade que a Sofia, mas muito mais experiência nesse tipo de palco, abraçou, conversou, descontraiu nossa menina e aquela ansiedade, medo, angústia, foi se transformando em administração do tempo.
Enfim o momento de passar o palco, ajustar os instrumentos e deixar o microfone da pequena em ponto de luz, pra que ela brilhasse lindamente. Ainda presa pelo nervosismo e atenta a tudo ao seu redor, Sofia passou sua música escutando cada nota, cada timbre da canção e os retornos próximos de seu ponto de apresentação no palco, foram minutos que pareceram horas.
Desde a passagem de som até o final da apresentação, Sofia teve amparo de parentes, amigos e parceiros que saíram de Guaíba para irem até Carazinho torcer por ela, afinal a construção de uma estrela necessita de apoio e suporte.
Apoio esse que veio de fora, porque, apesar de representar a cidade de Guaíba, Sofia não teve apoio nenhum das autoridades locais, mesmo tendo solicitado a vários figurões do legislativo e do executivo, mas teve uma alma solidária de fora do estado que apoiou e subsidiou a ida da Sofia com sua torcida para Carazinho.
E foi lindo de se ver, a torcida toda chorou quando Sofia subiu ao palco para sua apresentação e brilhou, brilhou como nunca, voz imponente, afinada, interpretação impecável, foi um momento maravilhoso, tanto para quem estava na Searinha, como para quem acompanhou pelo canal do festival no YouTube, fascinante e perfeita.
Ela seguirá porque tem o apoio incondicional da família, dos amigos e sempre terá alguém que estendera a mão, porque ela carrega verdade, humildade e beleza no cantar.
Agora não há mais teto, nem janelas, Sofia está ao ar livre, pronta para bater suas asas e alçar voos que nem ela nem ninguém sabe como e para onde será, mas que temos a plena convicção que será par o alto e avante, sem limites para voar, Don Barulho te diria: “Quem nasceu pra passarinho, não vai passar a vida caminhando, voa Sofia, voa e te mostra pra o mundo”.
“Que o maior presente entre as pessoas, sejam a bondade e o amor fraterno!”
Mário Terres
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