O fato ocorrido no bairro Rio Branco em Porto Alegre, envolvendo o motoboy preto Everton Henrique da Silva e um aposentado branco, são a caricatura mais grotesca do racismo estrutural das instituições policiais e como ele se materializa nas abordagens cotidianas destas instituições.
Após ter sido agredido deliberadamente com uma faca e sofrer ferimento no pescoço, e acionar a Polícia Militar, a vítima um motoboy negro foi imobilizado e algemado de forma agressiva enquanto o seu algoz simplesmente conversava aos risos com os policiais, numa completa inversão de papéis e conivência da força policial.
Esse tratamento desigual e claramente preconceituoso, nos remonta a um tempo em que o corpo negro era uma propriedade do homem branco tendo ele autonomia para agredir, mutilar e até matar o seu escravo. Uma era nefasta de segregação e ódio, em que a cor da pele determinava quem era “proprietário” ou “propriedade”.
O mais interessante neste caso é que em momento algum a guarnição interpelou o agressor que empunhando uma faca suja de sangue sequer foi rendido, tendo liberdade de subir até o seu apartamento calmamente desacompanhado onde deixou a faca, colocou uma camisa e retornou a cena, enquanto sua vítima era brutalmente imobilizada pelos policiais militares, mesmo sob o protesto da vítima e de terceiros que testemunharam a agressão sofrida.
Quando analisamos uma situação dessa magnitude social devemos ter em primeiro plano que a polícia é treinada para lidar com momentos extremos, fazendo uma leitura rápida das partes envolvidas em uma ocorrência, neste caso fica difícil não crer que houve uma conduta de racismo institucional no evento. E se de fato houve uma confusão no momento da abordagem, como estão sendo treinados nossos policiais nas academias? Quais são os critérios aplicados na avaliação psicossocial das abordagens?
Pensemos sob o prisma de uma eventual “confusão”, por que será que esta é tão seletiva e incorre quase sempre em desfavor do indivíduo de pele mais escura e de condição mais humilde?
Não por acaso segundo dados do INEPE (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), mais de 80% dos mortos em operações policiais são pessoas pretas e pardas.
A criminalização por cor e raça é uma das grandes responsáveis pelo encarceramento em massa e por situações como essa em que a etnia determina quem deve ou não ser preso.
Que tal evento desperte uma profunda reflexão nos comandos da segurança pública, visando a revisão de treinamentos e procedimentos operacionais das polícias, visto que, a polícia na condição de um braço da garantia da lei e da ordem do Estado, deve ser representativa, eliminando em sua totalidade velhos padrões revestidos de racismo institucional.
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