Repórter Guaibense

Sexta-feira, 29 de Marco de 2024

Colunas/Geral

Desafios para o novo ano

Os livros, os filmes, as pessoas

Desafios para o novo ano
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Ler os livros com mais vagar e mais atenção

           Lembro ainda de quando me tornei leitor de verdade: primeiro ano de faculdade, lia com pressa e com paixão, como se nessa pressa e nessa paixão houvesse um corredor retroativo onde recuperasse aqueles anos todos de adolescência em que só queria jogar bola com pressa e com paixão, quando as leituras do colégio eram regradas pela negligência e pelo tédio.  

            Com o correr dos dias, o passar dos anos, fui encontrando o meu ritmo, aprendendo a respeitar o ritmo de cada livro, a reconhecer minhas limitações como leitor e compreender que um livro que nos encanta carrega a mesma carga inesgotável  de uma pessoa que nos cativa: jamais conseguiremos acessar todas as suas facetas, haverá sempre algo novo para descobrirmos em ambos: a cada novo encontro uma nova nuance nos é apresentada.

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            Toda essa construção, porém, aconteceu num tempo sem smartphones, sem redes sociais nos solicitando a qualquer hora do dia, num tempo em que todos os discos do mundo não estavam a alguns cliques dos meus dedos, num tempo de cavernas benignas para onde podíamos fugir, ouvir por inteiro o que as leituras tinham a nos dizer, encontrar-nos conosco com muito mais atenção e regularidade.

            Eu não quero voltar para aquele tempo, que fique claro. O que eu quero é inventar neste tempo estufado de agora aquelas brechas todas que me sobravam quando o mundo ainda não cabia nas telas planas.

 

Perder menos tempo no cardápio dos streamings

             Uma ansiedade constante: ingressar nos streamings e começar a rodar pelos corredores virtuais, aquelas dezenas, centenas de opções apresentando-se solicitamente para mim, das séries mais comentadas do momento aos filmes mais consagrados de sempre, tudo ali ao mesmo tempo desfilando pelos meus dedos, e a incapacidade crônica em decidir se naquele momento eu devo optar por um caminho mais tranquilo, leve, comercial resumido em um esquete cômico, ou se não, se devo enfrentar o caudaloso pântano da reflexão existencial das obras canônicas, de algum filme seminal, no que acabo desperdiçando uns 40 minutos nesta indecisão angustiante até me dar conta dos tantos bocejos que estou repetindo, da hora adiantada que já se anuncia, da urgência de apagar tudo, de eu mesmo me apagar do mundo e me entregar a um sono que me devolva regenerado à manhã do dia seguinte.

           

Olhar mais nos olhos das gentes e do mundo

            Este tempo de agora que por vezes nos rapta para as telas dos aparelhos mais do que para as telas das pessoas e do mundo.

            Os olhos: encontrar métodos para roubar tempo da tecnologia e derramar este tempo recuperado sobre os olhos daqueles que amo, encontrar tempo para suspender essa pressa que não sei de onde nasce, mas sei dos efeitos que me atordoam, e repousá-la sobre o nascer do sol no Guaíba (os morros empurrando lentamente a claridade), sobre o pôr do sol que desaba vagarosamente às costas da cidade como quem admite saudades antecipadas, sobre uma mesa cercada de amigos e cervejas e nossas conversas que carregam as urgências de todas as saudades acumuladas neste tempo adiado que vivemos, tudo isso, claro, embalado pelas vozes e canções do Milton, do Chico, do Paulinho, do Tom.

            Olhar nos olhos das gentes e do mundo como quem subitamente descobre que essa é a única forma de construir eternidades.

 

Comentários:
Guilherme Lessa Bica

Publicado por:

Guilherme Lessa Bica

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