Os fatos envolvendo as grandes vinícolas gaúchas Aurora, Cooperativa Garibaldi e Salton certamente causaram um enorme impacto moral em grande parte da nossa sociedade, como disse somente uma parte, não em toda...
A fala do vereador de Caxias do Sul, Sandro Fantinel, materializa a forma como essa parcela pensa e age. Ao tentar colocar as empresas envolvidas como vítimas ao invés de exploradoras, o vereador buscou através de suas falas inverter a culpa das envolvidas, bem como, imprimiu ofensas racistas, xenófobas e preconceituosas contra os trabalhadores explorados.
Habitualmente as ocorrências envolvendo trabalho análogo a escravidão ocorrem com maior incidência em regiões mais afastadas como interior de Minas Gerais, bem como, norte e nordeste do Brasil. Neste caso, o que causou mais espanto é que as empresas envolvidas estão localizadas em uma das regiões mais ricas e prósperas do Brasil, a serra gaúcha!
Muito embora nosso país tenha abolido a escravidão há quase 135 anos, ainda perdura em significativa parcela dos empregadores uma cultura escravista...
A questão da exploração do trabalho escravo vai muito além do proveito financeiro, pois os fatores históricos e culturais influenciam diretamente na forma como a sociedade enxerga estas relações de trabalho, principalmente se essa força de trabalho for vulnerável a exploração.
Conceitualmente falando, o trabalho análogo a escravidão é uma condição de exploração de mão de obra abusiva e violenta, que cerceia a liberdade, impõe condições indignas e desumanas com remunerações aviltantes ou nenhuma, cumulando com a aplicação de métodos de tortura e cárcere.
De acordo com dados divulgados pela Ministério do Trabalho e Emprego, somente no ano de 2021, foram libertadas 1.937 pessoas em condições de trabalho análogo à escravidão contado com um aumento de 106% em relação a 2020. Ainda segundo o MTE, de cada 5 trabalhadores resgatados nessa condição, 4 são pretos ou pardos.
O segmento rural é disparado o que mais emprega esse tipo de prática criminosa, se valendo muito da sua localização em regiões rurais, afastadas dos grandes centros e de difícil acesso aos órgãos de fiscalização.
Não por acaso, os baixos salários pagos aos trabalhadores menos qualificados, tem uma relação velada com o escravagismo, ou seja, paga-se um salário pífio permitindo uma subsistência mínima ou precária das necessidades mais básicas.
A média salarial dos trabalhadores braçais é muito abaixo daqueles que detém alguma formação. Em países desenvolvidos trabalhadores operacionais recebem vencimentos muito mais expressivos do que os trabalhadores brasileiros, considerando obviamente as distintas realidades.
O preço a ser pago pelos que se valeram de tais práticas, poderá ser alto, visto que, as implicações não ficarão restritas ao âmbito administrativo, cível e criminal. Nossa sociedade está enganjada contra estas condutas abomináveis, uma vez que já ocorrem nas redes sociais campanhas por parte dos consumidores, promovendo o boicote das marcas citadas.
O trabalho serve para construir, dignificar e engrandecer, mas não para submeter.
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