Repórter Guaibense

Terça-feira, 30 de Setembro de 2025

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O gaúcho entre o ufanismo e o disforismo

Não podemos ser meros espectadores. A cultura é algo que está acontecendo em nosso dia-a-dia.

O gaúcho entre o ufanismo e o disforismo
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Quanto mais busco informações sobre Barbosa Lessa mais eu vejo o quanto o tradicionalismo se desviou de seu caminho, mas vejo também que há como voltar para a trilha, basta coragem de conduzi-lo ao mesmo.

Não vou discorrer sobre sua vida, faltariam bits e memória no site para relatar tantas histórias, biografia, fatos, conquistas e derrocadas. Barbosa é sem dúvida um ícone, o pai do tradicionalismo em sua essência.

E qual é essa essência?

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A essência de resgate dos valores de base, do olhar ao campo ou ao campestre, independente de cada origem. Lessa não queria o campo invadindo a cidade, nem a cidade reverenciando o campo, nada disso. Leiam o romance que esse maestro das letras escreveu: “Os Guaxos”, entenderão sua visão clara e límpida de todos os aspectos da formação da sociedade gaúcha, do homem de a cavalo ao gaúcho de a pé, da discriminação, marginalização e de tudo o que uma sociedade carrega em seu desenvolvimento.

Estamos falando de um homem da década de 30, olhando para frente do seu tempo, entendendo a importância de chamar a atenção das corruptelas estrangeiras (de dentro e de fora do país) que haveriam de degradar nossos costumes e com a possibilidade de degradação social.

Não pretendo soar pejorativo no termo “degradar”, uso este termo como algo que se perde no tempo, vai se extinguindo, se apagando. O estrangeirismo faz isso, as evoluções podem fazê-lo também.

Lessa era um peleador, apesar de advogado, folclorista, escritor, músico e historiador brasileiro, a Academia Brasileira de Letras fazia ressalvas as suas obras, afinal a história pela história é mais bela que pelos fatos. 

Lessa sempre foi assim, verdadeiro e me atrevo a dizer puro. Puro de essência e de causa. Ele queria mostrar o valor das coisas de sua terra, rebuscar os valores apregoados nos cernes das famílias e por visionário, via escorrer pelas mãos o apego da sociedade mais urbanizada pela sua própria história. As fantasias aristocráticas eram mais atraentes que os causos com cheiro de fumaça e picumã dos galpões.

“Não podemos ser meros espectadores. A cultura é algo que está acontecendo em nosso dia-a-dia”. Vejam que visionário esse homem.

Lessa passa a se dar conta que não tem havido preocupação por transmitir ao indivíduo comum um mínimo de conceitos básicos que evidenciam o papel que ele desempenha em determinada cultura. Se ele já aprendeu o ABC e as quatro operações, já está preparado para o que der e vier. Mas não é assim, não. Se eu não levo a cultura ao povo, ela deixa de ser popular. Se não apresento as diversas formas de manifestação cultural as gerações mais novas, não estou gerando expectadores para essas manifestações, seja em grandes espetáculos ou em micro apresentações.

Os polos irradiadores, que contém a força fomentadora disso tudo são as escolas e os núcleos de bairro. A cultura é bairrista e dela ganha o mundo. Tolstoy deixou seu legado “Pinte sua aldeia e a tornarás universal” isso dito, se as tintas forem estrangeiras não tem problema, a pintura é que vale.

Apresentemos o que de mais simples e original se apregoou nessa terra e deixem os jovens e as crianças desenvolverem suas imagens.

O homem, ao nascer, traz consigo uma herança física, isto é, uma série de caracteres genéticos e um comportamento individual instintivo que o tornam um animal específico, diferente dos outros animais. Mas ele também irá receber uma herança social, isto é, uma série de símbolos, ideias, atitudes, equipamentos e técnicas que irão determinar o seu comportamento dentro do grupo social a que pertence.

Há uma disputa constante para o estabelecimento do que é bom, do que é melhor, além dos que forçam a negativação querendo dizer do que é ruim, do que não presta. Isso é por demais enfraquecedor.

Pendem da seguinte forma: sou um poeta e escrevo poesias para o mundo, mas se apenas minha família e eu tiver acesso ao material, serei sempre um poeta familiar. Ao contrário se eu distribuir poesias pelo bairro, pelas escolas, pela cidade, as pessoas podem gostar ou não, faz parte do desenvolvimento, mas terão contato e se uma delas gostar vai mostrar a outra e assim a corrente se estabelece. Quando tiverem visibilidade essas poesias, preciso semear mais poetas entre elas e assim, não importa a minha ou a dele, mas a poesia, ela é que deve perpetuar.

Nós perdemos tempo disputando ao invés de nos acomodarmos e andarmos de mãos dadas, fortalecendo as nossas culturas locais, buscando a universalidade com o sumo da terra, com o que a aldeia nos dá de melhor, nosso enlace entre o que somos e de onde viemos, daí vem a pergunta íntima e individual, o que queremos ser? O que pretendemos mostrar ao mundo daquilo que vivemos e desenvolvemos?

Se cada um responder a sua verdade, caminharemos para o desenvolvimento cultural fraterno, combateremos os estereótipos convencionais, mostrando que há espaço para todos, basta ter afeto e fraternidade oferecendo a mão aberta e nunca o punho cerrado.

Barbosa Lessa me inspira, por isso encerro a coluna com um trecho do romance Os Guaxos, escrito em 1959, que traz simplicidade, mas pura essência:

E o tempo passado – revivido a cada noite nas proseadas de galpão – era que nem a fuligem se erguendo do fogão para tapar de picumã os velhos caibros do forro. A fumaça ninguém podia pegar, podia? Mas então como se explica que a fuligem, da fumaça resultante, se grudava e o picumã resultava em tão dura crosta escura? A fumaça do passado é o picumã do presente. Cada pedaço da estância conta um pedaço da história. ” - Barbosa Lessa.

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Mário e Tainara

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Mário e Tainara

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