Repórter Guaibense

Sabado, 08 de Fevereiro de 2025

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Inseticida natural, vacina e aumento de insetos pelas Mudanças Climáticas

Inseticida feito com planta da Mata Atlântica, Vacina liberada e insetos em plena reprodução

Inseticida natural, vacina e aumento de insetos pelas Mudanças Climáticas
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A dengue é uma doença infecciosa transmitida pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti. A maior incidência de casos é registrada nos meses mais quentes e chuvosos do ano, o que varia de região para região na extensão continental do Brasil. Considerada um problema de saúde pública no Brasil e em países tropicais, a dengue pode levar à morte, de forma que o Brasil registrou um aumento de 15,8% nos casos da doença em relação ao ano anterior. Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde,  de acordo com o Informe Semanal Nº 7 - Arboviroses Urbanas - SE 4 - 31 de Janeiro de 2024, atualizado em 01/02/2024, os casos de dengue aumentaram 272,9% em 2024, com parado ao mesmo período em 2023, totalizando 24 óbitos no Brasil e 1 no RGS, no último dia 31/01/2024, em Tenente Portela.

Talvez não seja a invenção do século, mas certamente amenizará a dor e o incômodo de muitas pessoas que sogrem com o mosquitinho, pois cientistas brasileiros desenvolveram um inseticida capaz de matar a larva do mosquito Aedes aegypti, causador da dengue, a partir de uma planta nativa da Mata Atlântica.

O produto foi criado com óleo essencial da Xylopia ochrantha (Mart), uma espécie endêmica do Brasil encontrada principalmente na floresta de restinga, localizada ao longo da costa. Essa característica faz desse óleo um inseticida biodegradável, sem acúmulo no meio ambiente. Além disso, os cientistas destacam que a extração do óleo é feita a partir de algumas partes da planta, sem a necessidade da remoção da mesma do meio ambiente.

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O estudo foi realizado por uma equipe múltipla de pesquisadores do Laboratório de Produtos Tecnológicos Naturais (LPTN) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), das universidades federais do Rio de Janeiro (UFRJ), Fluminense (UFF), de Viçosa (UFV), do Amapá (Unifap) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e em um artigo publicado recentemente na revista Sustainable Chemistry and Pharmacy, consideram o inseticida biodegradável como “a busca por alternativas sustentáveis para o controle larval do mosquito Aedes aegypti como urgentemente necessária em regiões tropicais e subtropicais”.

Na prática, os testes a partir do isolamento de uma molécula muito pequena do óleo essencial da planta, mostraram que tem uma alta especificidade contra a larva do A. aegypti, entretanto a substância não é eficaz contra outras espécies de insetos.

Outras pesquisas do mesmo tipo também cocorrem pelo Brasil. Segundo outra pesquisa realizada no curso de Ciências Biológicas do Centro Universitário de Brasília (CEUB), algumas plantas, como o cajuzinho-do-cerrado e o alecrim como um possível larvicida, o que seria uma alternativa complementar aos inseticidas químicos convencionais, agressores do meio ambiente.

No Brasil, o controle do Aedes aegypti é uma questão de saúde pública. No entanto, a resistência dos mosquitos aos inseticidas químicos e os impactos ambientais associados ao seu uso representam um desafio constante. Diante do dilema, a pesquisadora Clerrane Santana decidiu investigar o potencial das plantas no combate ao mosquito. Em seu estudo, foram utilizadas larvas de Aedes aegypti em estágio de desenvolvimento 3, as quais foram expostas a extratos etanóicos de cajuzinho-do-cerrado e alecrim. Os extratos foram obtidos por meio do método de maceração com agitação em etanol 96ºGL.

O experimento consistiu em colocar as larvas em placas de Petri, onde foram expostas aos extratos em concentrações de 1% e 2%, diluídos em água destilada. Também foram estabelecidos grupos de controle, um com apenas água destilada e outro com água sanitária comercial, conhecida por ter efeito larvicida.

Os resultados foram promissores: 1. o extrato de cajuzinho-do-cerrado apresentou um efeito larvicida semelhante ao da água sanitária na concentração de 2% após 12 e 24 horas de exposição; 2. o extrato de alecrim não mostrou diferença estatisticamente significativa em relação ao grupo controle nas concentrações testadas, no entanto, nas primeiras 12 horas, o alecrim foi mais eficiente do que a água sanitária, com uma taxa de mortalidade de larvas de 85% em comparação com os 78% do controle convencional.

A professora Francislete Melo, orientadora do projeto na CEUB explicou que a fitoterapia trabalha com uma combinação de componentes, de forma que “acredita-se que seja a interação de moléculas que cause o efeito desejado. Os extratos testados são ricos em compostos fenólicos, que já são conhecidos por suas propriedades larvicidas”.

A pesquisa ainda enfatiza que a aplicação doméstica de extratos de plantas, como o alecrim, surge como uma alternativa simples, natural e de baixo custo para o controle das larvas do mosquito e sugere que essa estratégia seja utilizada em conjunto com as medidas de controle já estabelecidas pelos órgãos de saúde, visto que os resultados abrem caminho para a implementação de métodos mais sustentáveis e eficazes no combate ao Aedes aegypti, o que contribui para a redução das doenças transmitidas pelo vetor e para a preservação do meio ambiente.

Enquanto isso, nas prateleiras das farmácias pelo Brasil afora, a Vacina da dengue esgota na rede privada após procura aumentar 110,75%, em janeiro, em relação ao mês passado, de acordo com a Associação Brasileira das Clínicas de Vacinas (ABCVAC), devido ao aumento expressivo de casos de dengue no Brasil.

Como consequência, o laboratório japonês Takeda anunciou em 05/02/2024 que será necessário  limitar o fornecimento de novas doses para hospitais e clínicas particulares no Brasil devido a capacidade limitada de produção, visto que a medida é necessária para garantir o atendimento prioritário ao Ministério da Saúde, que iniciará a vacinação de crianças e adolescentes de 10 a 14 anos este mês, pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

As doses destinadas às redes privadas serão limitadas ao quantitativo necessário para completar o ciclo vacinal de duas doses em quem já tomou a primeira. Em comunicado oficial: “A Takeda informa que, diante do atual cenário da inclusão da vacina Qdenga no Sistema Único de Saúde (SUS) por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI), e dos dados alarmantes da dengue no Brasil, a empresa está concentrada em atender de forma prioritária ao Ministério da Saúde. Essa decisão tem como objetivo apoiar o Ministério da Saúde no seu propósito de promover o acesso da vacina contra a dengue de forma integral e gratuita para a população brasileira. Assim, a Takeda informa que não está disponível para firmar contratos de forma descentralizada para atendimento a estados e municípios e que o fornecimento da vacina contra a dengue, Qdenga, no mercado privado brasileiro, será limitado para suprir e priorizar o quantitativo necessário para que as pessoas que tomaram a primeira dose do imunizante na rede privada completem seu esquema vacinal, de acordo com a posologia de duas doses subcutâneas com intervalo de três meses aprovada pela Anvisa”, afirma o fabricante.

A empresa está comprometida a entregar 6,6 milhões de doses ao Ministério da Saúde em 2024 e outras 9 milhões de doses para 2025. Em paralelo, busca soluções para aumentar o número de doses disponíveis no país, como parcerias com laboratórios públicos nacionais para acelerar a capacidade de produção da vacina.

De acordo com uma pesquisa da Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas - ABCVAC, com dados de aproximadamente 280 clínicas particulares do Brasil, foram aplicadas 13.290 doses da Qdenga entre julho de 2023 e janeiro de 2024 na rede privada. Foi identificado que o crescimento do interesse da população pela vacina vem desde outubro de 2023, quando foram aplicadas 1.463 doses, um aumento de 106,67% em relação a setembro, quando foram aplicadas 709 doses.

“A partir daí, o número só cresceu. Em novembro foram 1.955 doses, em dezembro 2.341. Em janeiro de 2024, chegou a 4.923 doses, um crescimento de 110,75% em relação ao mês anterior”, informou a ABCVAC.

A ABCVAC reconhece a complexidade da situação que levou à falta de vacinas e a importância da disponibilidade de doses para aplicação pelo SUS, mas pede que a detentora da produção vacinal, a Takeda, encontre soluções rápidas para garantir o abastecimento adequado para contemplar também o público que busca pela vacinação no setor privado.

De acordo com a presidente do Conselho da ABCVAC, Fabiana Funk, a possibilidade de vacinar um público com faixa etária mais abrangente no setor privado – com idades entre 4 a 60 anos – complementa a disponibilidade do SUS.

A nota da ABCVAC afirma que: “A ABCVAC compreende e logicamente apoia as ações do Programa Nacional de Imunizações (PNI), mas também ressaltamos o papel fundamental do setor privado complementando o setor público. Expressamos nossa preocupação diante da possível falta da vacina nas clínicas particulares e especialmente em relação às faixas etárias não cobertas pelo setor público. Observamos que a vacinação no setor privado desempenha um papel relevante, atendendo a faixa de 4 a 60 anos que, se não considerada, poderá gerar impactos no sistema de saúde como um todo. Por isso, esperamos que em breve sejam encontradas soluções eficazes que atendam à crescente demanda também para o setor privado”.

Em se tratando do nosso estado gaúcho, já foram registrados 5.163 notificações, sendo 2.534 casos confirmados da doença, dos quais, 2.101 são autóctones (o contágio aconteceu dentro do Estado) e os demais são importados, ou seja, residentes do Rio Grande do Sul que foram infectados em viagem a outro local. 

Em 2023, o Estado registrou mais de 34 mil casos autóctones. Ao todo, foram 54 óbitos em virtude da dengue no ano passado. 

O Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS), vinculado à Secretaria Estadual da Saúde (SES), confirmou dois casos de óbito por dengue em 2024. O primeiro ocorreu em 31/01/2024, é de uma mulher, de 71 anos, com comorbidades, residente do município de Tenente Portela; o segundo é de um homem, de 65 anos, com comorbidades, residente de Santa Cruz do Sul, confirmado em 06/02/2024.

A SES reforçou o apelo para que a população deve procurar atendimento médico nos serviços de saúde logo nos primeiros sintomas. Desta forma a evitar-se o agravamento da doença e a possível evolução para óbito. 

 

Fique atento aos Principais Sintomas:

  • febre alta de 39°C a 40°C, com duração de dois a sete dias;
  • dor retro-orbital - atrás dos olhos;
  • dor de cabeça persistente;
  • dor no corpo;
  • dor nas articulações;
  • mal-estar geral; 
  • náusea; 
  • vômito; 
  • diarreia; 
  • manchas vermelhas na pele, com ou sem coceira.
  •  

Medidas de Prevenção à Proliferação e Circulação do Aedes aegypti:

  • Limpeza e revisão das áreas internas e externas das residências;
  • Eliminação dos objetos com água parada, são ações que impedem o mosquito de nascer, cortando o ciclo de vida na fase aquática;
  • Colocação de telas finas em janelas e portas para minimizar entrada de insetos;
  • Uso de repelente também é recomendado para maior proteção individual contra o Aedes aegypti.

Em entrevista, a Secretária Estadual de Saúde Arita Bergmann afirmou que o estado passa por uma situação de emergência em relação `a Dengue e que a população tem que fazer a sua parte para minimizar os focos de criadouros para que menos pessoas sejam alvos de infecções. 

Conforme informações da Vigilância Ambiental em Saúde, em Guaíba, houveram apenas 6 casos suspeitos de dengue e aguardando confrimação por testes, sendo 1 deles notificado muito tardiamente.

De acordo com a Médica Veterinária, Assessora Técnica da Dengue, do Setor de Vigilância Ambiental em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Guaíba, Elisa de Menezes Teixeira “temos várias medidas atendendo a um protocolo do plano nacional de controle da dengue, o mais importante é o bloqueio de transmissão viral, que é uma ação realizada a um raio de 300 metros a partir do caso suspeito. Nesta ação são visitados todos os domicílios possíveis e coletadas amostras que vão para o nosso laboratorista identificar. Em todos os imóveis onde foram coletadas amostras, nós notificamos os responsáveis”.

Até o final do mês de Jan/2024, foram realizadas 2.640 visitas para ações de combate ao Aedes aegypti, além de muitas ações educativas em escolas, prefeitura na comunidade, postagens nas redes sociais e participação em eventos para divulgação dos dados do município de Guaíba em relação às arboviroses.

Mas afinal, o que tudo isso tem a ver com Mudanças Climáticas? À medida que as mudanças climáticas geram ondas de calor mais frequentes e severas, bem como a tempestades e inundações que deixam para trás poças de água estagnada e lixo espalhado sem dono,há o ambiente perfeito para reprodução e o que se vê e sente na pele é o “boom dos insetos, mas em especial os pernilongos” no mundo inteiro.

De acordo com o Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA, malária, dengue, zika, chikungunya, Chagas, febre maculosa, tifo, entre tantas, vem aumentando no mundo à medida que o Planeta vem aquecendo nos últimos anos.

De acordo com estudos, o aumento das temperaturas permite, em especial, que os pernilongos cresçam rapidamente e vivam por mais tempo. Considerando que antes eles morreriam durante invernos rigorosos em muitos lugares, agora têm uma chance maior de sobreviver por mais tempo, de forma a aumentar suas proles, assim como, o calor também acelera o tempo que leva para um parasita ou vírus amadurecer dentro de um mosquito.

“Quanto mais quente fica a temperatura, mais curto se torna o processo. Portanto, esses mosquitos não apenas vivem mais, mas também se tornam potencialmente infecciosos mais cedo”, disse Oliver Brady, professor associado da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres.

O calor leva as pessoas a saírem mais cedo e estarem mais expostas mais tarde, horários preferenciais dos mosquitos e também está levando as cidades a aumentar sua quantidade de espaço verde, o que tem um efeito de resfriamento vital, mas pode fornecer local de novos criadouros ideais para os insetos.

Aqueles que amam os dias quentes e escaldantes vão dizer que “é só um verão de nada”, mas venho tentando alertar que os sinais estão aí, só não vê quem não foi atingido pelos últimos temporais de ventos de 100km/h, ficou dias sem luz e sem água, que está pagando absurdos pelos alimentos e assim por diante... Para bons entendedores, os sinais são claros, claríssimos!

 

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Fontes:

FONTE/CRÉDITOS: Vigilância Ambiental/SMS/Guaíba/RS
Comentários:
Aline Stolz

Publicado por:

Aline Stolz

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