Em Guaíba, o cheiro de terra molhada se mistura a um temor que já é quase palpável. As nuvens cinzas que se acumulam no céu trazem à tona memórias de um maio que, para muitos, se tornou sinônimo de desespero e incerteza. As chuvas torrenciais que caíram durante aquele mês não trouxeram apenas água: trouxeram angústias, inundações e a perda da sensação de segurança que uma casa deve proporcionar.
Os moradores, que antes frequentavam com alegria as margens do rio, agora observam com cautela a dança das gotas de chuva. Cada pingar no telhado é um lembrete do que se passou. As crianças, que antes corriam soltas em um alegre alvoroço, agora escutam as histórias de seus pais sobre como o bairro foi quase engolido por águas que pareciam não ter fim. A inocência infantil agora se vê atravessada por um temor que não deveria ser parte do cotidiano.
Muitas casas ainda têm marcas visíveis das inundações: paredes descascadas, móveis jogados em ruas que um dia foram seus lares. E os moradores? Eles se reúnem nas esquinas, compartilham preocupações sobre o que a previsão do tempo traz. "As chuvas vão voltar", murmura Dona Maria, enquanto observa o céu. "É sempre assim, a natureza mostra que tem seu próprio poder."
As sirenes de alerta, antes apenas dobre de um bom dia, agora são gritos de emergência. Entre o correr e o se proteger, nota-se a solidariedade que brota desse cenário. Vizinhos se ajudam, compartilham sanduíches e cobertores, trocam informações sobre como proteger cada canto de suas vidas. Guaíba não é só uma cidade, é um lar que resiste, mas que teme.
Mas os homens e mulheres dessa cidade sabem que a vida não para. Basta um céu azul com o calor do sol para renovar as esperanças. Gardens de flores começam a despontar, e a risada das crianças pode ser ouvida, ainda que timidamente, nos dias de sol. Mesmo após a tempestade, os guaiabenses se reerguem, mostrando que o medo pode ser um adversário, mas nunca será um derrotado.
Se a chuva vier novamente, Guaíba estará mais preparada. E entre tantas incertezas, uma certeza persiste: a força da comunidade, o amor pela terra e a coragem de se reerguer a cada nova tempestade. Afinal, a chuva pode ser um medo, mas, acima de tudo, é um lembrete de que a vida continua, com todos os seus desafios e beleza.
FONTE/CRÉDITOS: Vera Salbego
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